Folha de S. Paulo


Negócios digitais como Google e Uber destroem valor, diz autor

Jeff Chiu/AP
FILE - In this Nov. 12, 2015, file photo, a man walks past a building on the Google campus in Mountain View, Calif. Alphabet Inc., Google's holding company, reports financial results Monday, Feb. 1, 2016. (AP Photo/Jeff Chiu, File) ORG XMIT: NYBZ153
Autor critica os modelos de negócios de empresas digitais como Google e Uber em livro recém-lançado

A economia digital deveria nos salvar. Mas, para Douglas Rushkoff, virou a vilã da história ao falhar em fazer do mundo um lugar melhor.

Para ele, contas privadas abastecem um "self-service de dados para o Facebook.

O Uber, a princípio um serviço de carona paga no qual motorista e passageiro saíam ganhando, usa condutores informais e mal pagos para atropelar a concorrência.

O Airbnb transformou o apartamento do vizinho num lucrativo dormitório, sem pagar taxas para tanto.

O que deu errado? É a pergunta que guia o recém-lançado "Throwing Rocks at the Google Bus" (apedrejando o ônibus do Google).

Professor na Universidade da Cidade de Nova York, Rushkoff escreve sobre tecnologia desde os anos 1990 (quando cunhou termos como "mídia viral").

No livro, à venda na Amazon (outra gigante da internet...) por US$ 14,99 (a versão para Kindle, em inglês), ele argumenta que as companhias digitais se comportam como uma invasão alienígena: chegam, extraem o máximo possível e não se importam com o rastro de destruição deixado para trás.

"Nem os investidores do Google, tampouco o famoso 1% [parcela da população que teria mais dinheiro do que os 99% restantes], são culpados pela crescente desigualdade da economia digital", diz Rushkoff.

LÓGICA ESPECULATIVA

Para ele, essas empresas são reféns de uma lógica especulativa: devem passar a ideia de quem crescerão indefinidamente se quiserem ter algum valor no mercado.

Digamos que João abra uma pizzaria. Ele faz uma marguerita muito boa, a clientela logo aumenta, e João expande a casa. Faz sentido, diz o autor à Folha.

"Antes, uma companha produzia algo e o vendia. Usava o dinheiro para pagar funcionários, material e depois distribuía o lucro entre os acionistas. É superfora de moda, mas é assim que os negócios funcionavam."

Digamos que João, agora, lance um aplicativo para pedir pizza. Em vez de traçar uma meta real, ele toca o empreendimento como se pudesse expandi-lo para sempre. A companhia se valoriza em cima de um potencial que jamais se concretizará, mas João faz vista grossa. Por quê? Porque pega mal ostentar rendimentos no mercado.

"Espera-se que você aumente o preço das ações. Se mostra receita, isso é ruim", diz. "Assim, potenciais investidores saberão o quanto você vale, e você não é valioso pelo que de fato possui, mas pelo que um dia, quem sabe, possa valer."

Para Rushkoff, o Uber é um bom exemplo dessa espiral insustentável de crescimento. A meta é "estabelecer monopólio sobre indústrias inteiras" –a de táxi hoje, talvez o delivery amanhã.

"Não importa se os motoristas [que trabalham para o aplicativo] estão quebrados. Não importa se o negócio não faz dinheiro. Há bilhões de dólares de investimento gastos para abaixar suas taxas e eliminar a concorrência."

Onde isso vai parar? O "objetivo do jogo" é ser abocanhado por um "tubarão" maior (como a venda do WhatsApp para o Facebook por US$ 16 bilhões) ou entrar no mercado de ações, afirma.

"A ideia original do negócio pode ter sido boa e potencialmente lucrativa, mas tudo isso implode em nome de algo bem diferente –vender a empresa para Wall Street."

O título do livro se refere a um protesto contra o Google. Começou com um cartaz onde se lia "Tecnologias de despejo e gentrificação".

Alguns manifestantes se reuniram num ponto de ônibus tomado por transporte privado para funcionários do Google irem ao trabalho, no vizinho Vale do Silício.

PEDRAS CONCRETAS

Se Rushkoff viu "certa graça" naquele protesto, em poucas semanas "não havia mais por que sorrir". Manifestantes agora apedrejavam os ônibus da companhia.

O episódio, segundo o autor, revela como, em tempos digitais, as coisas podem dar errado em velocidade exponencial. No microcosmo, "as pessoas começam a entender que este crescimento enorme do Vale do Silício não se traduz numa economia próspera para quem está à volta".

Ele cita o fato de que pessoas e negócios estão deixando São Francisco porque a cidade ficou muito cara.

"Supostamente, a internet viria para facilitar nossa vida. Estas companhias deveriam ser os 'heróis'. Mas automatizam nossos empregos, sugam nossos dados e nosso dinheiro e jogam as benesses no colo dos acionistas."

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RAIO-X
Douglas Rushkoff, 55

Carreira
É professor de teoria midiática e economia digital na Universidade da Cidade de Nova York

Livros
São 16 títulos, entre os quais "Program or Be Programmed: Ten Commands for a Digital Age" (programe ou seja programado: dez mandamentos para a era digital, de ) e a ficção "Ecstasy Club"

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Throwing Rocks at the Google Bus

AUTOR Douglas Rushkoff

EDITORA Portfolio

Quanto R$ 54,30 na amazon.com.br (281 págs.)


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