Folha de S. Paulo


Petrobras quer chamar mediador para resolver crise da Sete Brasil

Divulgação
Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil
Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil, empresa que tenta recuperação judicial

A Petrobras decidiu se posicionar para tentar evitar o pedido de recuperação judicial da Sete Brasil, que será discutido em reunião de acionistas da companhia nesta sexta-feira (8).

Para isso, propõe a contratação de um mediador externo a fim de negociar um acordo entre os sócios.

Parte dos acionistas defende o pedido de recuperação judicial da Sete, criada para ser a principal fornecedora de sondas do pré-sal, sob o argumento de que a empresa não tem como honrar seus compromissos financeiros.

Os sócios se reúnem novamente nesta sexta para discutir o futuro da empresa, que está imersa em dívidas e com obras paralisadas.

No encontro mais recente, não houve consenso sobre a adoção da estratégia. A Petros, fundo de pensão dos empregados da Petrobras, votou contra o recurso à Justiça.

A Petrobras tem evitado se manifestar nas reuniões, alegando conflito de interesse, mas nesta sexta deve defender a proposta de contratação de uma consultoria externa para mediar as negociações, segundo a Folha apurou.

O tema já vem sendo discutido internamente com alguns dos sócios da operadora de sondas. O objetivo é tentar construir um acordo que garanta a sobrevivência da fornecedora.

Além de cliente, a estatal é sócia da Sete, com uma participação direta de 5% e com outros 4,59% por meio do Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Sondas.

Os outros sócios são os fundos de pensão Petros, Funcef e Previ, o fundo de investimento FI-FGTS e os bancos BTG Pactual, Santander e Bradesco.

Em seu balanço de 2015, a Petrobras ampliou a estimativa de perdas com o investimento na Sete para R$ 922 milhões –no balanço do terceiro trimestre, a previsão era de R$ 676 milhões.

A última proposta apresentada pela estatal à Sete previa a contratação de dez sondas, número bem inferior ao contrato inicial, que falava em 28 unidades.

A Petrobras propôs ainda a redução do prazo de contratação e do valor do aluguel diário, sob o argumento de que o cenário mudou com a queda do preço do petróleo no mercado internacional.

Alguns sócios dizem que a proposta não paga o investimento feito na Sete até agora, que soma R$ 8 bilhões. A empresa tem uma dívida de R$ 17 bilhões com bancos.

Na atualização mais recente publicada em seu site, com dados de janeiro, a Sete mostra 17 sondas em diferentes estágios de construção.

As mais avançadas, Urca e Arpoador, estão com mais de 80% das obras concluídas, nos estaleiros Fels Setal e Jurong, respectivamente.

A menos avançada, Mangaratiba, está com apenas 4,78% das obras concluídas, com blocos de aço sendo montados no Nantong, na China.

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1 O que é a Sete Brasil?

Empresa criada em dezembro de 2010 para construir sondas para exploração do pré-sal, que seriam alugadas à Petrobras

2 Qual era o acordo?

Entre 2014 e 2018, a Sete Brasil forneceria 28 plataformas, no valor estimado de US$ 30 bilhões. As sondas seriam alugadas à Petrobras por um valor estimado, na época da criação, em US$ 600 mil/dia

3 De quem é a empresa?

Os principais sócios são a Petrobras, os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, os fundos de pensão estatais Petros, Previ, Funcef, Valia e o fundo FI-FGTS

4 Quanto dinheiro já foi consumido?

Sócios e credores já colocaram ao menos R$ 20 bilhões

5 Quem fez empréstimos?

O BNDES havia se comprometido a emprestar R$ 9 bilhões à Sete. Enquanto o crédito não era liberado, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú, Santander deram crédito "temporário" de R$ 14 bilhões. A dívida atual gira em torno de R$ 17 bilhões

6 Algo já foi construído?

Alguns estaleiros já iniciaram a construção das sondas, mas ficaram sem receber. Vários deles já anunciaram paralisação dos trabalhos e demissões

7 Por que tudo ruiu?

A empresa e estaleiros foram envolvidos na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras. Isso paralisou o projeto e levou o BNDES a congelar o repasse prometido. Além disso, o preço do petróleo despencou, tornando inadequados os termos do acordo inicial

8 Qual o envolvimento na Lava Jato?

Pedro Barusco, ex-executivo da Petrobras e da Sete, afirmou que ele e outros diretores receberam dinheiro dos estaleiros contratados para fazer as sondas. O ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz e o ex-diretor Eduardo Musa admitiram ter recebido propina de estaleiros

9 Sem o dinheiro do BNDES, como a Sete pagou o empréstimo ao grupo de bancos?

A empresa não conseguiu pagar a dívida e negociou várias renovações de prazo

10 Por que acionistas querem a recuperação judicial?

Parte dos acionistas argumenta que a empresa não tem como honrar seus compromissos financeiros. Existe a hipótese de que o juiz, se aceita a recuperação, poderia pressionar a Petrobras a cumprir o acordo

11 Por que a Petrobras reluta em fechar um acordo?

A estatal quer cortar custos para enfrentar tanto a queda do preço do petróleo quanto o aumento de suas dívidas. Por isso, já negociou uma redução no número de sondas. No entanto, o contrato ainda é desvantajoso, já que a Sete espera receber cerca de US$ 400 mil por dia em aluguel de cada sonda, enquanto o preço internacional está abaixo dos US$ 250 mil


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