Folha de S. Paulo


Obama critica mudança de empresas americanas para outros países

Gary Cameron/Reuters
U.S. President Barack Obama reacts to a question while delivering remarks on the economy in the White House press briefing room in Washington April 5, 2016. REUTERS/Gary Cameron - TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: WAS107
Barack Obama critica transferência de empresas para outros países

Barack Obama iniciou um novo round contra grandes corporações. Em discurso nesta terça (5) na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos criticou empresas locais que transferem suas operações para outro país, atrás de impostos mais em conta.

Elas "renunciam à sua cidadania, mas ficam com todas as recompensas de serem uma companhia americana", disse em coletiva de imprensa. E quem paga a conta, continuou, "é a classe média".

Na segunda (4), o Departamento de Tesouro americano anunciou novas medidas para brecar um processo conhecido como "inversão tributária" –quando corporações mudam de endereço em busca de taxas menos onerosas.

A Pfizer é um bom exemplo. A gigante farmacêutica, fabricante do Viagra, planeja uma fusão de US$ 150 bilhões com a irlandesa Allergan, que produz o Botox. Se concretizada, a empresa vai tirar proveito da carga tributária mais baixa na nação europeia.

PANAMÁ

Para fortalecer sua causa, Obama citou os "Panama Papers" –documentos que mostram como o escritório Mossack Fonseca atuou do Panamá para abrir empresas offshore mundo afora.

Os papéis revelam como a elite política e empresarial de diversos países usou esse esquema para sonegar impostos ou lavar dinheiro.

Para o presidente, há paralelo entre o caso panamenho e a "inversão tributária". Ele defendeu que mesmo operações consideradas legais deveriam ser repensadas.

O dinheiro que vai ralo abaixo com "macetes" empresariais, segundo Obama, "poderia estar sendo gasto em necessidades urgentes dos EUA".

"O princípio básico de garantir que todos paguem sua cota justa e que nós não tenhamos algumas poucas pessoas capazes de se beneficiar das provisões tributárias. Isso é algo que merece nossa atenção."

O volume desperdiçado com a soma das evasões tributárias legais e ilegais, disse, "não são só na casa dos bilhões de dólares, podem chegar a trilhões".

O anúncio do Departamento de Tesouro, contudo, é encarado como paliativo. O Congresso, de maioria oposicionista (republicana), precisa autorizar uma reforma mais drástica –algo improvável, sobretudo em ano eleitoral.

"Essas ações tiram alguns dos benefícios econômicos da 'inversão' e ajudam a desacelerar essas transações", disse o secretário do Tesouro, Jacob Lew, em comunicado. "Mas sabemos que as companhias continuaram atrás de novos e criativos modos para realocar seu endereço tributário e evitar pagar a conta em casa."

TRUMP E CRUZ

No encontro com jornalistas, Obama contou que vem sendo "frequentemente questionado" por líderes internacionais preocupados com "as sugestões mais malucas" de Donald Trump e Ted Cruz.

Os dois são pré-candidatos republicanos à sucessão presidencial e já se disseram a favor de uma agressiva reforma imigratória nos EUA –que poderia expulsar milhões de ilegais do país.

Apoiar uma corrida nuclear oriental contra a Coreia do Norte (Trump) e respaldar "incondicionalmente" Israel contra a Palestina (Cruz) são outras plataformas polêmicas.

Obama misturou um sorriso com uma careta de horror quando uma repórter o perguntou sobre Trump. "Ah, não, é Trump!", brincou.

O presidente, contudo, reforçou que não digere mais facilmente as propostas do senador texano, Cruz, "que de certas formas são tão draconianas quanto as de Trump, em termos de imigração".


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