Folha de S. Paulo


Tecnológicos e enxutos, mini-hotéis competem com Airbnb nos EUA

Pablo Enriquez/The New York Times
 A room at Pod 39, a microhotel on East 39th Street in New York, March 3, 2016. A growing number of so-called microhotels are taking a smaller-is-better approach. The space is tight but the price, at around $100 a night, is right. (Pablo Enriquez/The New York Times) - XNYT161
Quarto no micro-hotel Pod 39, em Nova York

Em uma recente viagem de negócios à cidade de Nova York, Kelly Buck optou por um quarto de hotel pequeno –apenas nove metros quadrados.

Buck, executiva de marketing de uma organização sem fins lucrativos em Auburn, Nova York, estava em busca de uma boa oferta, e a encontrou no Pod 39, um dos micro-hotéis que começam a ganhar importância no mercado, com sua abordagem de que menor quer dizer melhor. E o preço, uma diária de cerca de US$ 100, era o certo para ela.

"Eu passaria só uma noite na cidade, e sabia que o quarto seria pequeno, mas funcional, exatamente o que encontrei", ela disse.

Um hotel irmão, o Pod 51, oferece ainda menos espaço, com alguns quartos de apenas seis metros quadrados, e banheiros compartilhados. Isso é um legado do passado daquele edifício como hotel residencial que oferecia quartos e não suítes.

Num momento em que os hotéis tentam combater os atrativos do Airbnb e cortejar os viajantes mais novos e independentes, alguns deles, como Buck, começam a optar pelos micro-hotéis.

Esses estabelecimentos combinam elementos de albergues e navios de cruzeiro, e são caracterizados por quartos compactos, uso intenso de tecnologia e um salão comunal superdimensionado.

"O desordenamento criado pela locação em curto prazo de acomodações está criando todo um novo canal de oferta", disse Scott Berman, sócio diretor da divisão de hospitalidade e lazer na consultoria PricewaterhouseCoopers.

GRANDES REDES

O conceito dos micro-hotéis ganhou empuxo inicialmente na Europa, com marcas como a CitizenM e a Yotel em aeroportos e nas regiões centrais de grandes cidades. Agora, o modelo está se expandindo. A rede Yotel, que já opera um hotel em Manhattan, planeja abrir novas unidades em San Francisco, Miami, Boston e Brooklyn, além de Londres, Genebra e Cingapura. A rede Pod espera inaugurar uma nova casa em Manhattan, e unidades em Brooklyn e Washington.

Não são apenas cadeias especializadas de hotelaria que se deixam atrair pelo conceito. Atraídas pelo potencial de lucro da inclusão de maior número de quartos em um mesmo espaço, e pela possibilidade de uma redução geral nos custos de construção, cadeias maiores de hotelaria também começam a planejar projetos de micro-hotéis.

A Hilton Hotels & Resorts está lançando a Tru, com quarto médio da ordem de 20 metros quadrados, ante as dimensões típicas de cerca de 32 metros quadrados na Hampton Inn, outra marca de hotelaria do grupo. A Marriott International, que lançou a cadeia Moxy em Milão, está criando um protótipo de quarto para os Estados Unidos que deve vir a ter 16 metros quadrados. Um quarto na rede Courtyard, da Marriott, em contraste, tem cerca de 27 metros quadrados.

A Hilton anunciou que tem compromissos para construir 189 hotéis Tru. E espera que diversos deles estejam em operação antes do final do ano. A Moxy inaugurará três hotéis nos Estados Unidos e nove no exterior em 2016, e os planos são de uma rede com mais de 50 casas no futuro.

"Há mais aceitação de quartos menores", disse Mark van Stekelenburg, diretor executivo da CRBE Hotels. Ele disse que os hóspedes viam valor em hotéis que oferecessem conveniências significativas.

TECNOLÓGICOS

A tecnologia é um grande atrativo, especialmente se empregada de maneira criativa.

A Yotel, por exemplo, dispensou carregadores de bagagens em seu micro-hotel em Nova York, confiando em lugar disso em um braço robotizado para armazenar e apanhar bagagens. Na CitizenM, um tablet controla as persianas, luzes e televisor do quarto. A Moxy usa sensores de movimento para iluminar o caminho até o banheiro privativo. Eles se ativam quando o hóspede se levanta da cama. O Pod tem uma central de mídia no quarto, ou um sistema para acoplar iPods. Para quem viaja a trabalho, a Hilton antecipa criar espaços privados e alcovas para trabalhar, em lugar das tradicionais centrais de negócios.

"Há muito menos mão de obra do que em um hotel tradicional", disse Stephani Robson, professora na Escola de Administração Hoteleira da Universidade Cornell.

Os quartos são pequenos e oferecem os mesmos recursos de um hotel tradicional, até certo ponto. No CitizenM, as camas são king size e extra longas. Ocupam toda a largura do quarto e, para se, movimentar é preciso passar por cima delas. No Moxy, uma parede de cabideiros substitui os armários.

"Os quartos têm tudo que você quer e nada de que você não precise", disse Tina Edmundson, diretora mundial das marcas de luxo e estilo de vida da Marriott. "A maioria das pessoas nunca desfaz as malas".

Pequeno não quer dizer necessariamente menos dispendioso. Uma recente busca de hotéis em Tempe, Arizona, encontrou diária de US$ 259 para um Moxy na noite de sexta-feira. A diária era mais cara que a de hotéis próximos como o Holiday Inn Express, Aloft ou Embassy Suites.

COLETIVO

O ponto focal desses micro-hotéis está nas áreas comuns superdimensionadas para trabalhar, comer e se divertir. Uma área de recreação pode incluir um tabuleiro de xadrez ou mesa de pebolim.

"Os hóspedes querem que amigos e convidados os visitem no hotel e se sintam bem", disse Hubert Viriot, presidente-executivo da Yotel.

Mas esses quartos podem não ser atraentes para hóspedes que desejam um toque individual. Liz Gagliardi, executiva de varejo que vive perto de Boston, já havia se hospedado em um CitizenM na Europa, e gostou dos recursos tecnológicos e da iluminação bem concebida.

No Yotel, onde ela se hospedou janeiro em Nova York, e que escolheu pelo preço e localização, não havia água mineral ou uma cafeteira no quarto. O Yotel diz que há café grátis disponível o dia inteiro no balcão de recepção, e muffins gratuitos pela manhã. Alguns micro-hotéis oferecem refeições, pagas por fora, para consumo no quarto, mas isso não parece atraente para Gagliardi. "Eu não escolheria o mesmo hotel de novo", ela disse.

Buck prolongou sua estadia no Pod 39 por um dia quando seu voo de volta foi cancelado. Ela ficou curtindo o movimento no salão comunitário, decorado com lanternas de papel japonesas e oferecendo uma mesa de pingue-pongue, livros e mobília confortável. "Não é para todo mundo", ela disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página: