Folha de S. Paulo


Empregados menos leais reduzem lucros de setor funerário no Japão

Eugene Hoshiko/Associated Press
In this Jan. 28, 2016 photo, a laptop monitor shows
Oferta de monge on-line no site da Amazon japonesa, para velórios e cerimônias religiosas

O setor de serviços funerários japonês, que movimenta 2 trilhões de ienes por ano (cerca de R$ 66 bilhões), se encaminha para um pico de serviço nas próximas duas décadas. Mas está temeroso.

A população do país, que enfrenta rápido envelhecimento, está encaminhando o movimento das funerárias japonesa a um pico de 1,67 milhão de óbitos em 2040.

Por causa do índice de natalidade persistentemente baixo, o 1,3 milhão de mortes registradas anualmente no Japão já supera em 300 mil o número de nascimentos.

Mas, embora o faturamento esteja em alta, o número médio de participantes em cerimônias fúnebres caiu à metade dos anos 1990 para cá.

As famílias que perderam entes queridos demonstram menos entusiasmo sobre o custo médio de 2,3 milhões de ienes (cerca de R$ 75 mil, pela cotação desta sexta, 25) para um funeral. Além do custo, o próprio ritual das cerimônias fúnebres vem sendo questionado e alterado.

RITUAL EM XEQUE

Na maior parte das famílias japonesas, o costume é contratar um agente funerário para preparar o corpo do defunto (função que foi retratada no filme "A Partida", que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009).

O corpo é lavado e vestido com terno ou quimono, e o rosto é maquiado. Algumas famílias aguardam um dia de "melhor augúrio" para o velório, no qual os participantes acendem incenso e tocam um sino antes de rezar em frente ao defunto. Um sacerdote budista recita sutras.

Costuma-se dar uma pequena lembrança aos participantes. O corpo é depois cremado, em cerimônia da qual participa a família, e as cinzas são enterradas, em uma outra cerimônia.

PATRÕES E FUNCIONÁRIOS

Um fator que vem reduzindo o número de pessoas presentes a serviços fúnebres é o desaparecimento do "participante compulsório".

No passado, funcionários se sentiam no dever de comparecer aos funerais dos parentes de seus chefes, ou aos dos presidentes de empresas clientes e suas famílias, diz Yuichi Noro, presidente da San Holdings, a maior funeraria japonesa.

Em anos de grande movimento, um trabalhador teria de comparecer a dois ou três funerais de pessoas a quem nunca conheceu.

Mas a cultura do trabalho mudou. Crescente proporção da força de trabalho tem empregos temporários ou de tempo parcial e se sente menos obrigada a respeitar as velhas convenções.

"As empresas não se assemelham mais a famílias, como costumava ser o caso no passado, e o senso de lealdade é menor", diz Noro.

Estimativas sugerem que mais de 35% dos japoneses idosos querem a presença apenas de seus familiares e amigos próximos em seus funerais e que pelo menos 8% deles não deseja nenhuma forma de serviço fúnebre.

Além disso, a expectativa de vida, hoje de mais de 80 anos, significa que, quando uma pessoa morre, ela em geral já estará aposentada há quase duas décadas e os funerais já não estarão repletos de antigos colegas.

MONGES ON-LINE

Para manter os lucros em meio a essa mudança cultural, o setor realizou pela primeira vez uma feira de serviços funerários, em Tóquio, em dezembro de 2015.

Prestadores de serviço tradicionais também se rebelaram contra a Amazon, que lançou um serviço on-line que oferece monges de aluguel para as cerimônias fúnebres japonesas.


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