Folha de S. Paulo


Com mercado retraído, produtos de Páscoa têm importação reduzida

Marcus Leoni/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 03.03.16 18h A casa Santa Luzia, que trouxe 800 colombas de pascoa importadas da Italia em 2014, neste ano trouxe apenas cem. O motivo e o cambio. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, MERCADO)
Produtos importados para a Páscoa na Casa Santa Luzia, em São Paulo (SP)

Ingrediente típico da Semana Santa, o bacalhau escapou da sina de produtos importados pelos supermercados neste ano: ocupar espaço cada vez menor nas prateleiras das lojas.

A redução do volume de importados foi uma das saídas do varejo para contornar a dificuldade de repassar, para um consumidor mais retraído, a alta do dólar.

Atingiu produtos procurados na Páscoa, como as colombas e os vinhos, além de chocolates, biscoitos, massas, queijos e outros produtos.

As redes também substituíram produtos estrangeiros por nacionais e, na ausência de um similar, procuraram fornecedores mais baratos.

O Pão de Açúcar ampliou a oferta de produtos de marcas próprias importadas, como Casino e Club des Sommeliers, segundo Luis Otavio Moura, gerente comercial.

A Casa Santa Luzia restringiu o espaço para as colombas importadas em suas prateleiras. Se em 2014 a rede trazia 800 colombas, neste ano foram apenas 100.

"Resolvemos trazer poucas, só para aquele cliente que tem um avô italiano que amava a verdadeira colomba e precisa presentear, por exemplo", diz Ana Maria Lopes, diretora da Santa Luzia.

A empresa completou as prateleiras com produtos de grandes fabricantes nacionais, como a Bauducco.

"Desenvolvemos uma colomba artesanal, mas ainda tem o problema do câmbio, porque a receita leva ingredientes importados: amêndoa, fava de baunilha, farinha, limão-siciliano", diz.

No caso do bacalhau, porém, o empório manteve os volumes de importação: 11 toneladas, duas vezes por ano, em média. A rede Pão de Açúcar priorizou os cortes mais nobres e reduziu as compras dos tipos mais básicos.

INFLAÇÃO DOS IMPORTADOS - Câmbio ajuda a elevar a inflação

SEGURANDO REPASSES

"Num cenário em que todo o mundo está com renda menor, não tem como repassar tudo. A saída é absorver uma parte, reduzir a margem e controlar os custos", diz o professor de economia da USP Simão Silber.

O índice de inflação dos produtos com preços influenciados pelo câmbio –os "comercializáveis"– mostra a dificuldade dos lojistas em repassar a alta do dólar.

Nos 12 meses até fevereiro, enquanto o dólar subiu 38%, a "inflação dos importados" foi 9,45% (o indicador considera também produtos cujos preços oscilam conforme o câmbio, como café, milho, veículos e calçados).

Considerando apenas os importados vendidos nos supermercados, a alta foi de 14,9% em um ano, em média, segundo a Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). Os vinhos importados, por exemplo, subiram 10% no período, enquanto o bacalhau avançou 8%.

"Muitos reajustes talvez não tenham acontecido em sua totalidade e podem ocorrer novos repasses", diz André Braz, economista do Ibre, da FGV. Para ele, os preços vão subir, mesmo que o consumo caia. "Os fabricantes precisam repassar. Os custos vão sendo pressionados de tal forma que os aumentos vão sendo feitos em doses homeopáticas."


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