Folha de S. Paulo


San Francisco perde paciência com empresas de tecnologia

Robert Galbraith - 01.abr.2014/Reuters
Manifestantes bloqueiam o caminho de um ônibus do Google, em San Francisco
Manifestantes bloqueiam o caminho de um ônibus do Google, em San Francisco

San Francisco perde paciência com empresas de tecnologia

Cidades em geral não celebram a derrocada de sua principal atividade econômica, mas o relacionamento entre San Francisco e a comunidade da tecnologia vem se tornando cada vez mais tenso.

Dois anos atrás, ônibus do Google e de outras companhias de tecnologia em seu percurso pelas estreitas ruas de San Francisco começaram a ser alvo de protesto.

Agora, depois que a prefeitura autorizou formalmente esses ônibus a usar as paradas públicas, depois que a elite da tecnologia foi acusada de tentar comprar uma importante eleição local, depois que o Airbnb gastou uma fortuna para derrotar um projeto de lei que teria restringido suas ações, o descontentamento se generalizou.

Em dezembro, 39% dos adultos da região da baía de San Francisco disseram acreditar que as coisas estivessem caminhando na direção errada, na Califórnia, ante 29% um ano antes, segundo pesquisa do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia. Já em Los Angeles, a porcentagem da população que expressa desaprovação caiu de 37% em 2014 para 33% em 2015.

"O sentimento é praticamente onipresente. As pessoas gostariam de que a economia tecnológica perdesse um pouco a força", disse Aaron Peskin, líder da oposição.

"Essas companhias bilionárias deveriam amenizar o impacto que causam."

No boom do setor de internet do fim dos anos 1990, os polos de escritórios do Vale do Silício eram como outro planeta para a maioria dos moradores de San Francisco, um lugar que eles sabiam ser ao sul da cidade, mas ao qual jamais precisavam viajar. Mas o Vale do Silício foi fincando raízes cada vez mais fundas na cidade propriamente dita, e o confronto se tornou inescapável.

As consequências para as pessoas que não ganham a vida no ramo de tecnologia são cada vez piores. A cidade está superlotada, com a população crescendo em 10 mil pessoas por ano, para 852 mil em 2014. Um apartamento
de um quarto é alugado por US$ 3.500 mensais, o valor mais alto do país.

Para cada pessoa que se muda para San Francisco, outras duas começam a trabalhar na cidade vindas de comunidades vizinhas. A velocidade média do tráfego vespertino, nas estradas que alimentam as vias expressas, caiu 20% nos dois últimos anos. E os trens do sistema Bart também estão no limite.

"Há preocupações válidas de que San Francisco esteja se tornando uma plutocracia", disse a empreendedora Donna Burke. "O Vale do Silício se preocupava mais com mudar o mundo do que com dinheiro. Precisamos voltar àquele espírito."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página: