Folha de S. Paulo


Investidor internacional compra papéis brasileiros após divulgação de gravação de Dilma e Lula

Bloomberg/Reprodução
Tela mostra negociação de papeis que acompanham a Bolsa brasileira no exterior; após o fechamento do mercado, a linha do gráfico permanece plana, mas, quando é divulgada a gravação da conversa entre Dilma e Lula, os papeis se valorizam abruptamente
Tela mostra negociação de papeis que acompanham a Bolsa brasileira no exterior; após o fechamento do mercado, a linha do gráfico permanece plana, mas, quando é divulgada a gravação da conversa entre Dilma e Lula, os papeis se valorizam abruptamente

Embora o mercado interno não tenha sofrido o impacto da divulgação da conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, investidores estrangeiros mostraram apostar que os ativos brasileiros, como ações e títulos públicos, devem se valorizar fortemente.

O áudio da conversa, que sugere que Dilma agiu para tentar impedir uma possível prisão de Lula, grampeada pela Polícia Federal. foi divulgado nesta quarta (16), após o fechamento do mercado local.

No exterior, o fundo que tem como referência ações de empresas de médio e grande porte negociado nos Estados Unidos (ETF do índice MSCI Brasil) teve significativa valorização no início da noite, após o vazamento da conversa (veja imagem acima).

Em apenas dez minutos, entre 18h50 e 19h (horário do Brasil) o índice subiu 5,35% para 25,60 pontos. E a valorização prosseguiu nas horas seguintes. Às 21h era negociado a 25,90 pontos.

A percepção do mercado é que o vazamento e as reações que vieram a seguir darão impulso ao processo de impeachment contra Dilma.

O mercado vê com bons olhos uma eventual saída da presidente. Investidores e analistas acreditam que o fim do governo petista terminaria com a crise política e abriria espaço para a adoção de medidas que reativem a economia, que passa por uma recessão profunda.

ANTES DA GRAVAÇÃO

O humor no mercado doméstico melhorou na reta final da sessão desta quarta-feira (16), em função do cenário externo favorável.

O dólar comercial, que atingiu R$ 3,85 na parte da amanhã, acabou encerrando o pregão em queda, abaixo de R$ 3,74. O Ibovespa subiu 1,34%, ajudado pelas ações da Petrobras e da Vale.

O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) manteve a taxa de juros norte-americana na faixa entre 0,25% e 0,50%. A autoridade monetária revisou suas projeções para os juros e agora veem dois aumentos em 2016, contra quatro anteriormente, o que impulsionou os índices acionários em Wall Street e, consequentemente, a Bovespa

Além disso, os preços do petróleo e do minério de ferro subiram no mercado internacional.

No entanto, os investidores observam com cautela os movimentos no campo político, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou o convite para integrar o governo Dilma Rousseff como ministro da Casa Civil.

Analistas afirmam que a ida de Lula para o ministério já havia sido precificada. Agora, o mercado aguarda possíveis mudanças na política econômica e novidades em relação ao andamento do processo de impeachment da presidente Dilma e à Operação Lava Jato.

Segundo analistas, a notícia de que o ex-presidente do BC Henrique Meirelles poderá voltar ao governo contribuiu para diminuir o nervosismo do mercado.

Em entrevista coletiva nesta tarde, a presidente Dilma Rousseff negou que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deixará o cargo. Ela também disse que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, será mantido.

DÓLAR
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NOTAS DE DÓLAR

O dólar comercial fechou em queda de 0,66%, a R$ 3,7390, mas a moeda americana à vista, cuja negociação terminou antes da decisão do Fed, subiu 1,52%, a R$ 3,8079.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 13,870% na sessão anterior para 13,750%; o contrato de janeiro de 2021 terminou estável, a 14,600%. No mercado, há a perspectiva de que, sob a interferência de Lula, a taxa básica de juros (Selic) sofra cortes para estimular a economia.

O CDS (credit default swap), uma espécie de seguro contra calote e indicador da percepção de risco do país, recuava 0,69%, para 420,653 pontos.

BOLSA

O Ibovespa, que chegou a recuar 1,29% pela manhã, fechou em alta de 1,34%, aos 47.763,43 pontos. O giro financeiro somou R$ 8,296 bilhões.

As ações da Petrobras subiram 9,37%, a R$ 7,23 (PN) e 7,74%, a R$ 9,60 (ON), acompanhando a recuperação dos preços do petróleo. Em Londres, o petróleo Brent subia 4,00%, a US$ 40,29 o barril; nos EUA, o WTI ganhava 5,94%, a US$ 38,50.

O petróleo sobe com a notícia de que países produtores de petróleo, incluindo membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) no Golfo Pérsico, apoiariam a realização de um encontro em abril para discutir um congelamento dos níveis de produção mesmo se o Irã se negar a participar. Membros e não membros da organização deverão se reunir em Doha em 17 de abril.

Os papéis da Vale ganharam 8,87%, a R$ 10,55 (PNA) e 9,94%, a R$ 14,82 (ON). Entre as siderúrgicas, CSN ON subiu 10,54%, Gerdau PN ganhou 5,26%, Gerdau Metalúrgica, +7,97% e Usiminas PNA, +10,89%. Após seis sessões consecutivas de queda, o minério de ferro com entrega em Qingdao, na China, subiu 1,30% nesta quarta-feira, a US$ 53,57 a tonelada.

No setor financeiro, os papéis ordinários do Banco do Brasil fecharam em alta de 3,37%, a R$ 18,09, após terem recuado mais de 21% no pregão desta terça-feira (15), em meio às expectativas de que Lula viraria ministro.

Com exceção de Santander unit (+2,95%), as ações de bancos privados caíram: Itaú Unibanco PN (-2,95%), Bradesco PN (-2,22%) e Bradesco ON (-2,60%).

"Além de refletirem uma eventual queda dos juros, os papéis desses bancos recuaram com a possibilidade de, sob Lula, voltar a política de estímulo ao consumo via crédito", diz Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos. "É um cenário perigoso para os bancos, que poderão enfrentar riscos maiores a taxas menores."

EXTERIOR

Em Wall Street, os índices acionários fecharam em alta: o Dow Jones ganhou 0,43%, o S&P 500 avançou 0,56% e o Nasdaq, +0,75%, impulsionados pela decisão do Fed. A autoridade monetária não deu indícios de que pretende elevar os juros na próxima reunião, em abril, mas destacou os riscos à economia americana por causa da crise econômica e financeira global.

Na Europa, as Bolsas fecharam sem direção única, antes da decisão do Fed: Londres (+0,58%); Paris (-0,22%); Frankfurt (+0,50%); Madri (-0,28%); Milão (-0,18%).

As Bolsas chinesas fecharam em alta. O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, defendeu as políticas econômicas do governo, prometendo que não haverá demissões em massa e nenhum pouso forçado da segunda maior economia do mu


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