Folha de S. Paulo


Empresários não apostam em guinada à esquerda com volta de Lula

Ernesto Rodrigues - 13.out.2015/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva durante congresso da CUT em São Paulo
A presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva durante congresso da CUT em São Paulo

Empresários não apostam em uma guinada da política econômica para a esquerda com a volta do ex-presidente Lula a Brasília, agora como homem forte do governo, como deseja o PT.

Para eles, ao assumir a Casa Civil, Lula tentará, em um primeiro momento, reaproximar o governo e o partido com um discurso de retomada de crescimento.

Mas o rombo fiscal e a pressão do dólar só deixam espaço para "medidas cosméticas" na economia, dificultando manobras que já foram usadas por Dilma no passado, como baixar juros à força e obrigar os bancos públicos a ampliar significativamente o crédito para estimular o consumo.

Avançar por esse caminho pode jogar o país na rota da Venezuela com câmbio nas alturas e inflação descontrolada. Por seu histórico, Lula é considerado pelo setor privado um político "pragmático" e mais sensível a esse risco do que Dilma.

Nas últimas semanas, o PT e os movimentos sociais ligados ao partido pressionam o governo Dilma a abandonar a reforma da Previdência, vista como um ataque aos direitos do trabalhador, e a adotar medidas de estímulo à economia mesmo sem dinheiro.

A primeira tarefa do ministro Lula será política: refazer as pontes com o PMDB e derrotar o impeachment no Congresso.

Os empresários acreditam que suas chances são pequenas. Lula e sua família estão sendo investigados pela operação Lava Jato e novas denúncias podem surgir. Sua nomeação, que garante foro privilegiado, pode gerar forte reação contrária da opinião pública.

Os investidores já reagiram negativamente. Na terça-feira (15), ainda na expectativa da nomeação de Lula como ministro, o que só aconteceu nesta quarta (16), a Bolsa caiu 3,56% e o dólar subiu 3%, fechando em R$ 3,75.

Nesta quarta, com a confirmação de que o ex-presidente assumirá a Casa Civil, o dólar sobe e a Bolsa cai, mas com intensidade menor do que vista mais cedo na sessão. Depois de chegar a R$ 3,85, o dólar –tanto à vista quanto comercial– era negociado no patamar de R$ 3,82 por volta do meio-dia. O Ibovespa recuava 0,65%, aos 46.822,51 pontos, depois de ter caído mais de 1% antes do anúncio de Lula no ministério. O índice é pressionado pelas ações do setor financeiro, mas a alta das ações da Petrobras e da Vale impede uma queda maior do Ibovespa.

Agora, os investidores aguardam sinalizações sobre a condução da economia, que podem provocar a saída de Alexandre Tombini da presidência do BC.

Para o empresariado, se Lula e o governo sobreviver a tudo isso, aí sim tentará uma aproximação com o setor privado para retomar investimentos. Ainda assim, eles têm dúvidas se poderão confiar no governo.


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