A percepção de que uma solução para a crise política pode estar próxima deu força a um movimento recente de compra de ativos brasileiros, como ações, títulos públicos e moeda local, por investidores estrangeiros.
Embora não haja expectativa de retomada econômica e o país tenha perdido o selo de bom pagador pelas três principais agências de classificação de risco, o diagnóstico é que, aos preços atuais, o Brasil ficou muito barato. No mercado, há quem veja o país como "a bola da vez".
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O Credit Suisse deu o tom dessa tendência em relatório divulgado nesta semana. Pela primeira vez em muito tempo, recomendou que seus clientes aumentem a alocação em ações brasileiras, reduzindo a exposição à Índia.
"Estamos revertendo nossa antiga preferência por ações indianas em relação às brasileiras", diz o banco.
O JPMorgan, que já recomendava investimentos em títulos do governo em real, passou a sugerir que clientes aumentem suas apostas na valorização da moeda brasileira no curto prazo.
Em relatório recente, o Goldman Sachs diz que investidores com perfil de longo prazo que são seus clientes voltaram a comprar as ações brasileiras no mês passado: "Essas foram as primeiras compras significativas que vemos em anos."
Os resultados do maior apetite por Brasil começaram a aparecer nas estatísticas.
Dados compilados pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF) e obtidos pela Folha mostram que, na semana passada (de 29 de fevereiro e 4 de março), o Brasil teve a maior entrada de investimentos estrangeiros em ações desde janeiro de 2012.
Nos primeiros quatro dias deste mês, segundo o Banco Central, entrou mais capital financeiro do que saiu do país, interrompendo uma tendência negativa observada desde novembro do ano passado. O saldo ficou positivo em US$ 1,7 bilhão.
"O estrangeiro vê o Brasil desorganizado, principalmente na parte fiscal, e não enxerga melhora no curto prazo. Mas, ao que parece, os preços estão compensando o risco, dado que a maioria olha a economia brasileira como grande e diversa o suficiente para aguentar esse tranco", diz Rodrigo Borges, da gestora americana Franklin Templeton.
A americana foi uma das primeiras a voltar a apostar no país. Segundo gestores, investidores estrangeiros lideram o movimento. Os brasileiros, mais pessimistas, foram pegos na contramão e agora seguem essa corrente.