Folha de S. Paulo


Ex-ministro da Economia da Argentina morre aos 88 anos

Mauro Rico/Secretaria de Cultura Presidencia de la Nación
Aldo Ferrer acredita que os países não podem desequilibrar contas públicas
Aldo Ferrer concedeu entrevista à Folha há poucas semanas

O argentino Aldo Ferrer, ministro de Economia do país em 1970 e 1971, durante a ditadura, morreu nesta terça-feira (8) aos 88 anos. Ele sofria de um problema cardíaco que havia se agravado nas últimas semanas.

De linha desenvolvimentista, Ferrer foi influenciado pelas teorias de seu professor Raúl Prebisch e da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). Era professor emérito da Universidade de Buenos Aires, onde também fez a graduação e o doutorado.

No início da carreira, nos anos 1950, trabalhou na ONU em Nova York. Lá, teve contato com o polonês Michal Kalecki, a quem considerava um dos maiores economistas do século 20.

Entrou na política pelo partido de centro-esquerda União Cívica Radical e foi conselheiro econômico da embaixada argentina em Londres. Ainda atuou como ministro de Economia e Fazenda da província de Buenos Aires (1958 a 1960), presidente do Banco da Província de Buenos Aires (1983 a 1987) e embaixador na França entre 2011 e 2013, durante o governo de Cristina Kirchner.

Influenciou as políticas econômicas adotadas por Cristina, mas, nos últimos anos, passou a criticar algumas medidas, como a apreciação cambial e o aumento do gasto público quando a economia já operava em plena capacidade.

Ativo até as últimas semanas, Ferrer era um dos economistas convidados a participar dos debates sobre o acerto da Argentina com os fundos abutres. A discussão acontece nesta semana no Congresso Nacional e antecede a votação dos parlamentares que poderá permitir o pagamento.

Em entrevista recente à Folha, disse que era necessário solucionar o problema com os credores, mas que o modo como se estava tratando o assunto prejudicaria a Argentina.

"Não estou de acordo com a forma que estão sendo feitas as negociações, mas esse é um assunto menor. O problema da Argentina não são os abutres, são as questões internas. Está se está negociando com a ideia de que a renegociação da dívida é essencial. Nessa posição, a última palavra será dos abutres."

Ferrer escreveu alguns dos principais livros de economia argentina -entre eles "Vivir con lo nuestro" e "La economía argentina"- e foi um dos elaboradores do Plano Fenix, desenvolvido nos anos 2000 como alternativa ao modelo econômico neoliberal.


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