Folha de S. Paulo


Taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos dispara e ameaça geração

É entre os jovens que a atual escalada do desemprego faz seu maior estrago, podendo deixar em alguns anos um grupo de pessoas sem trabalho nem experiência para conquistar um posto compatível com suas qualificações e aspirações.

A taxa de desocupação entre jovens de 18 a 24 anos, que ficou em 16,8% em 2015 e foi a que mais cresceu entre os grupos etários, começa a preocupar especialistas em mercado de trabalho, que vislumbram uma geração perdida em poucos anos.

No ano passado, o salto na taxa de desemprego desse grupo foi de 4,7 pontos percentuais em relação a 2014, enquanto na média geral da população das grandes metrópoles o aumento foi de dois pontos percentuais.

A tendência de deterioração do emprego entre os jovens já mostra acentuação na virada deste ano. Os dados do IBGE de janeiro de 2016 apontam elevação ainda maior, de seis pontos, em relação a janeiro de 2015.

Tradicionalmente, o desemprego dos mais jovens é superior ao das outras faixas etárias, mas, segundo Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, o que alerta desta vez é a intensidade da disparada.

"O que chama a atenção é a aceleração da elevação entre um público que historicamente registra as taxas de desocupação mais altas."

A preocupação, de acordo com especialistas, é que muitos jovens que estão ingressando no mercado agora não estão encontrando vagas. Não ganharão, portanto, experiência para evoluir em suas carreiras.

Quando a crise passar, eles podem ser preteridos por outros, também jovens, que terão acabado de chegar ao mercado.

Jovens desempregados ouvidos pela reportagem relatam dificuldade de contornar a falta de experiência e observam que o número de entrevistas de emprego ficou menor nos últimos meses.

CRISE ECONÔMICA

Para Regina Madalozzo, especialista do Insper no assunto, a gravidade dessa situação vai depender de quanto tempo o país vai le-var para se reerguer da recessão e esses jovens ficarão sem trabalho.

"Imagine alguém que se formou no ensino médio em 2015 e não encontra emprego até o fim deste ano. No início de 2017 ele vai competir com quem terá acabado de se formar em 2016. Agora, imagine se a crise levar mais um ano. Haverá o dobro de pessoas para concorrer", afirma.

O cenário ainda está longe do caso da Espanha, onde a crise fez o desemprego entre pessoas abaixo dos 25 anos superar os 50% —hoje está em 45%. Mas, para Ana Ligia Finamor, coordenadora da FGV, é pertinente fazer analogias para lembrar que, além do desenvolvimento tardio das carreiras, há reflexos sociais.

"Teremos jovens entrando no mercado de trabalho e se desenvolvendo mais tarde. Com isso, terão salários maiores também mais tarde", diz.

"Mas a sociedade como um todo perde. É um desperdício do talento desses jovens, que ficam perdidos ou, quando podem, partem para o exterior. E pode ter outros reflexos como depressão e ansiedade", afirma Finamor.

ESCOLHAS

O professor Paulo Vicente Alves, da Fundação Dom Cabral, sugere duas escolhas para o jovem que acabou de se formar e não consegue emprego: procurar uma pós-graduação ou se subempregar.

"Precisa quebrar o ciclo do recém-formado. Se não tem experiência, não arruma emprego. Se não tem emprego, não arruma experiência", diz Alves, que reconhece que nem todos os jovens têm condição financeira para bancar estudos de pós graduação.


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