Folha de S. Paulo


Norte e Nordeste perdem fôlego e viram lanterna da economia

As regiões Norte e Nordeste, que haviam mostrado maior resistência à desaceleração econômica em 2014, foram as mais afetadas pela retração da atividade verificada no ano passado.

É o que mostram dados sobre o nível de atividade em cada região divulgados pelo Banco Central e por órgãos federais e estaduais.

Na semana passada, o IBGE informou que o PIB nacional de 2015 registrou a maior queda desde 1990.

O Índice de Atividade Econômica Regional do Banco Central (IBCR), utilizado pela instituição para avaliar o desempenho da economia por regiões, indica um quadro de recessão generalizada, mas com dados piores para o Norte e Nordeste.

Na virada de 2014 para 2015, Norte e Nordeste passaram de uma expansão próxima de 2% para uma retração de 3% no ano passado. Já o Sudeste encerrou 2015 com queda de 2,5%.

Uma explicação para essa mudança é que a crise econômica atingiu primeiro o setor industrial, mais forte no Sul e no Sudeste. Mas no ano passado chegou ao comércio, aos serviços e à construção civil, setores dos quais o Norte e Nordeste são mais dependentes, afirma Flávio Ataliba Barreto, diretor-geral do Ipece (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará).

Em 2015, as vendas do varejo caíram com mais força no Nordeste, segundo o IBGE.

"Nessas regiões, o setor de serviços é muito importante. Ao impactar esse setor, [a crise] afeta proporcionalmente mais o crescimento dessas regiões", diz Barreto.

Outro problema foi a queda nos investimentos públicos, devido às restrições orçamentárias, o que paralisou muitas obras.

"Em 2014, ainda estava circulando muito dinheiro na economia, os investimentos não tinham parado e conseguimos manter um crescimento dois pontos percentuais maior que o do Brasil", afirma Flávio Figueiredo, presidente da Condepe, agência de planejamento e pesquisas de Pernambuco.

"Em 2015 e 2016, vamos ter a mesma queda do Brasil."

LAVA JATO

Figueiredo diz que Pernambuco sente adicionalmente reflexos da Lava Jato, com a paralisação das obras da refinaria Abreu e Lima e o cancelamento de navios e plataformas da Petrobras.

Porém, diz ele, como a região é beneficiada por programas sociais, o Estado não perderá participação na economia do país. "As políticas de distribuição de renda fomentaram a vinda do parque industrial alimentar, o único setor industrial que ainda está em crescimento."

No Norte, os efeitos da crise econômica podem ser vistos, principalmente, na Zona Franca de Manaus, que tem 95% da produção voltada ao mercado nacional.

O faturamento das indústrias caiu 10% no ano passado. O número de postos de trabalho passou de um recorde de 126 mil vagas no primeiro semestre de 2014 para 88 mil no final de 2015.

Segundo o IBGE, o Amazonas foi o Estado com maior queda na produção industrial. Já o Pará foi o único a ter crescimento, beneficiado pela extração de minério de ferro para exportação, que teve bons resultados apesar da queda no preço.


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