Folha de S. Paulo


Brookfield faz proposta por concessões da espanhola Abengoa no Brasil

A canadense Brookfield largou na frente para comprar os ativos no Brasil da Abengoa, que entrou com pedido de recuperação judicial na Espanha no final de 2015 e desde então paralisou as obras no país.

A proposta por 100% das concessões de linhas de transmissão agrada tanto a companhia espanhola quanto ao governo, mas este ainda vê entraves em relação à viabilidade financeira de algumas das linhas.

A Abengoa pede pelas 16 concessões um valor próximo a R$ 8 bilhões, mas a ideia da Brookfield é ofertar pouco acima da metade desse valor.

Pressionada para vender, a espanhola está estudando a oferta junto ao governo para viabilizar a operação.

Na terça-feira (1º), o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmou que há duas estrangeiras com propostas na mesa para a compra dos ativos.

A Folha apurou que a primeira é a própria Brookfield. A segunda é a gigante chinesa State Grid.

A principal diferença nas propostas é que a Brookfield compraria 100% dos ativos, enquanto que a rival chinesa levaria apenas as linhas já construídas e as que possuem as licenças de instalação.

Pela proposta, das 16 concessões, onze seriam arrematadas pela chinesa. As outras cinco voltariam para as mãos do governo que faria um novo leilão, com retorno mais alto para atrair investidores.

Quatro dessas cinco linhas já estão atrasadas. Algumas delas já deveriam ter sido entregues em agosto de 2015.

A necessidade de acordar um excludente de responsabilidade -quando o governo isenta o investidor pelos atrasos no empreendimento- está diretamente relacionada à viabilidade do projeto. Por isso, a preferência do governo ainda é de retomar essas cinco linhas.

Procuradas, a Brookfield e a Abengoa preferiram não se pronunciar.

A State Grid confirma o interesse, no entanto, afirma que ainda não foi feita uma proposta formal.

PRESSÃO DO MERCADO

Fontes do mercado afirmam que o governo está pressionado para achar uma maneira de vender os ativos da Abengoa, mesmo com a falta de interessados nas concessões da espanhola.

Além de destravar os investimentos, existe a preocupação com diversos contratos que a espanhola firmou com fornecedores brasileiros que desapareceriam com a relicitação dos projetos.

Adiciona-se a esse cenário a insalubre tarefa de buscar investidores em um momento delicado para as empresas do setor.

As companhias tradicionais de transmissão no Brasil -grupo que envolve as antigas estatais do setor, como o grupo Eletrobras, Copel, Cemig e Cteep (esta privatizada nos anos 1990)- cobram do governo R$ 25 bilhões em indenizações por terem aceitado renovar as concessões em 2012, por meio da medida provisória 579.

Elas ameaçam esvaziar os leilões marcados para abril e julho caso o governo não defina como irá pagá-las.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Em dezembro de 2015, a Abengoa entrou com um pedido de recuperação judicial na Espanha devido ao alto endividamento da matriz.

Desde então, paralisou as obras no Brasil e demitiu a maior parte dos trabalhadores que estavam envolvidos na construção dos empreendimentos.

No país, além das concessões de linhas de transmissão, a companhia também detém duas plantas de cogeração -quando se produz dois tipos de energia, uma parte elétrica e outra térmica, utilizada no aquecimento ou resfriamento de edifícios- e um hospital em Manaus (AM).


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