Folha de S. Paulo


Governo da Argentina chega a acordo com fundos 'abutres'

O governo da Argentina chegou a um acordo com credores internacionais, o que abre a possibilidade de o país colocar um ponto final no calote da dívida externa de 2001 e voltar ao mercado internacional de crédito.

A Argentina fechou um acordo com os quatro "mais duros" e importantes credores estrangeiros (NML/Elliot Management, Aurelius Capital, Dadivon Kempner e Bracebridge Capital) na noite deste domingo (28).

O país se comprometeu em pagar US$ 4,4 bilhões até o dia 14 de abril para estes fundos, pejorativamente chamados de "abutres" pelo governo da ex-presidente Cristina Kirchner, que se recusara a negociar com estes credores.

Outros US$ 263 milhões deverão ser pagos a título de custas judiciais do caso, que se arrasta desde 2014 na Justiça de Nova York.

ENTENDA A CRISE NA ARGENTINA

Ao todo, segundo economistas, a Argentina deve a credores externos que não aceitaram um desconto na dívida remanescente do calote de 2001 entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões, que deverão ser pagos neste ano.

O valor varia porque depende do desconto que o país quer obter dos que ainda não aderiram à negociação.

O ministro da Fazenda argentino, Alfonso Prat-Gay, disse que o país conseguiu um abatimento médio de 25% do valor devido até agora.

Estes credores representam 7% dos detentores da dívida argentina de 2001. Os outros 93% participaram de renegociações, em 2005 e 2010, e aceitaram um desconto de até 70% da dívida.

Cristina Kirchner queria que os 7% remanescentes aderissem às mesmas condições, mas os fundos não aceitaram. A disputa acabou na Justiça dos EUA e a Argentina perdeu a causa em 2014.

Mesmo derrotada, a ex-presidente recusou-se a pagar e a Justiça americana congelou todas as operações de crédito da Argentina no exterior, o que colocou o país em "calote técnico" –tinha dinheiro, mas não podia pagar.

Antes de assumir, o atual presidente, Mauricio Macri –cujo partido fazia oposição à Cristina–, prometera que negociaria com os fundos, com o objetivo de devolver a Argentina ao mercado internacional de crédito.

"Nenhum país do mundo cresce sem crédito", afirmou Prat-Gay, nesta segunda (29).

Segundo seus cálculos, o país perdeu cerca de 2 milhões de empregos devido à relutância do governo anterior em por fim ao impasse.

"São custos provocados pela saída de divisas do país, de investimentos que não vieram e do uso de reservas internacionais para o pagamento de dívidas", disse.

Para que o acordo seja honrado, o governo argentino precisa derrubar duas leis no Congresso, aprovadas durante a gestão de Cristina, que proíbem seu sucessor de negociar melhores condições com seus credores.

Para economistas argentinos, ouvidos pela Folha, Macri (que não tem maioria no Congresso) deverá contar com o apoio de peronistas que romperam com Cristina.

"Acredito que setores do peronismo vão apoiar o presidente para aprovar o acordo", afirmou o economista Marcos Buscaglia, da consultoria Alberdi Partners.

Prat-Gay adiantou que, após a aprovação legal, o governo pretende emitir títulos no mercado internacional para arcar com os pagamentos.


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