Folha de S. Paulo


Pequenos negócios são antídotos dos shoppings contra baixa ocupação

Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO/SP BRASIL. 20/02/2016 - Santana Parque Shopping em ano de crise no pais.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, NEGOCIOS)***EXCLUSIVO***
Loja do Santana Parque Shopping, na zona norte de São Paulo, em dia de liquidação

Em 2015, a taxa de vacância (espaços vagos) em shoppings centers chegou a 3,97% do total disponível. Parece pouco, mas o dado divulgado pela Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) revela um recorde histórico, e negativo.

Para contornar o problema, tem aumentado o interesse desses espaços em atrair pequenos e médios negócios.

"Nunca imaginei que um dia teria um ponto em um shopping", diz Marcos Haga, da Frutaria Haga, que está há sete meses no Santana Parque Shopping, na zona norte da capital paulista.

O centro comercial criou o chamado "Armazém Santana", voltado para empresas de alimentação que fizeram fama na rua. A ideia é facilitar a estreia de negócios como o Pastel da Maria e a Casa Mathilde, oferecendo condições especiais de negociação de contrato.

"Vendo produtos de baixo valor, não tenho como pagar o mesmo que uma loja de vinhos, que vende garrafas a R$ 1 mil", diz Haga, sem revelar quanto paga de aluguel.

O empresário recebeu mais de dez convites de shoppings após abrir a loja em Santana -todos com condições especiais de locação.

"Quero pelo menos mais uma loja do tipo", diz o varejista, que tem ponto no Mercado Municipal há 15 anos.

Junior Durski, chef e fundador da rede de restaurantes Madero, do Paraná, também tem recebido ofertas com condições especiais.

"Para fechar contratos de cinco anos, há quem me ofereça ficar três anos sem pagar aluguel", afirma ele, que possui cerca de 40 lojas em shoppings em diversas regiões.

Durski prefere não revelar o nome do empreendimento, mas já houve um shopping do Paraná que lhe ofereceu até mesmo arcar com parte de sua folha de pagamentos.

"Eu queria deixar o shopping, pois a loja não era lucrativa. Só fiquei porque a economia com os salários da equipe fez valer a pena", diz.

O empresário é entusiasta dos centros comerciais e atribui a alta taxa de espaços vagos ao desaquecimento da economia brasileira.

"Pago condomínio, mas economizo com segurança e estacionamento, além de ganhar um fluxo de pessoas que vai ao shopping por outros motivos" diz ele.

O Shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo, diz não enfrentar problemas com a taxa de desocupação, que estaria dentro dos padrões normais -entre 2% e 2,5%.

Mesmo assim, segundo o superintendente Sérgio Nagai, o Eldorado ofereceu condições mais favoráveis a empresários que abriram lojas por lá neste ano ou renovaram o contrato.

CAUTELA

Na avaliação do professor Maurício Morgado, do centro de excelência em varejo da FGV/Eaesp, ter uma loja em shopping traz algumas vantagens aos pequenos empresários, como ações promocionais sazonais. Mas há ponderações a serem feitas.

"Apesar de o momento ser favorável aos pequenos negócios, é preciso ser cuidadoso nos cálculos, porque as cláusulas em caso de ruptura costumam ser muito caras."

Morgado recomenda acompanhamento jurídico e conversas com empresários que já tenham lojas no local antes de fechar o negócio.

PONTE

Os farmacêuticos Fernando Finatelli e Ricardo Sasaki não queriam mais atuar no setor em que eram especialistas.

Com capital, decidiram, em 2011, procurar o Santana Parque Shopping para conversar sobre valores de aluguel de um ponto.

"O shopping me ofereceu uma lista de franquias com o perfil de lojas desejado por eles e ainda nos ajudou com os contatos", afirma Finatelli.

A franquia escolhida pela dupla em 2011 foi a rede Imaginarium, de presentes e objetos de decoração.

Na época, como a taxa de ocupação dos shoppings não estava em queda, a dupla teve dificuldades para abrir a loja.

Hoje, aproveitando a baixa, Finatelli e seus sócios têm seis lojas da rede em shoppings centers.

"Nas negociações mais recentes, conseguimos descontos no aluguel e outras facilidades", afirma.

Tatiana Ribas, mulher de Finatelli, também pretende abrir uma loja de franquia em um centro comercial ainda neste ano.

De acordo com Sérgio Nagai, superintendente do Shopping Eldorado, em São Paulo, essas franquias são vistas com bons olhos pelos shoppings.

"São uma garantia de segurança para nós, além das implantações serem mais rápidas", afirma.

Além das franquias, outros tipos de lojas interessantes para os shoppings são cinemas e restaurantes. Eles aumentam o fluxo de pessoas que se dirigem aos empreendimentos, mesmo sem o objetivo inicial de fazer compras.

"São negócios que atraem público e geram fluxo para os outros varejistas", diz Nagai.

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