Folha de S. Paulo


Editora do 'Daily Mirror' lança jornal impresso neste mês no Reino Unido

David Bebber/Reuters
ORG XMIT: 044101_1.tif A man reads the Daily Mirror newspaper which shows photographs it says are of British soldiers abusing an hooded Iraqi prisoner, May 1, 2004. Britain launched an investigation into allegations British soldiers had abused Iraqi prisoners and the Daily Mirror newspaper published photographs on Saturday, showing a captive being urinated on and beaten. REUTERS/David Bebber
Homem lê o jornal britânico "Daily Mirror"

A Trinity Mirror, editora de jornais britânica, embarcará, na semana que vem, em uma audaciosa tentativa de atrair de volta à página impressa os leitores digitais.

Com o lançamento do "New Day", o primeiro jornal nacional independente a surgir no Reino Unido em três décadas, a companhia desafia a decadência que o setor vem enfrentando nos últimos anos.

Simon Fox, presidente-executivo da Trinity Mirror, disse que, embora mais de um milhão de pessoas tenham deixado de comprar jornais em papel nos dois últimos anos, "bom número delas pode ser tentado a retornar, com o produto certo".

"Revitalizar a mídia impressa é parte central de nossa estratégia, em paralelo com a transformação digital, e não é preciso haver escolha entre as duas formas –os jornais podem viver na era digital se forem projetados para oferecer algo de diferente", ele disse.

O novo jornal, que circulará nos dias de semana, será impresso em papel de alta qualidade e cobrirá as notícias "com tom e estilo moderno, direcionado a uma ampla audiência de mulheres e homens que desejam algo diferente do que está disponível atualmente". O jornal custará 50 pence (R$ 2,9).

O lançamento é significativo, porque muitas companhias de jornais estão abandonando a mídia impressa e concentrando suas atenções no crescimento digital. O "Independent anunciou neste mês que seu jornal diário e dominical deixará de circular, e optou por se concentrar em seu site.

A Trinity Mirror também vem sofrendo quedas de circulação em seus jornais regionais e no "Daily Mirror", o tabloide que é seu principal título.

OTIMISTA E POSITIVO

A companhia enfatizou que o "New Day" não seria uma publicação irmã ou uma versão mais leve do "Daily Mirror". O novo jornal, segundo a empresa, reportará com "uma abordagem otimista e positiva, e será neutro politicamente".

Fox disse que pesquisas conduzidas pela companhia haviam constatado que muita gente rejeita "as inclinações políticas fortes" dos jornais britânicos. O "Daily Mirror", por exemplo, adota postura fortemente favorável ao Partido Trabalhista.

Mas Fox disse que o lançamento do "New Day" pouco afetaria o "Daily Mirror", já que o novo produto é direcionado a uma audiência diferente.

O "New Day" custará 10 pence a menos que o "Daily Mirror", e se tornará o segundo mais barato entre os jornais nacionais do Reino Unido, atrás do "i", que custa 40 pence (R$ 2,3) –ainda que o "London Evening Standard" e o "Metro" sejam distribuídos gratuitamente.

O "i" foi adquirido neste mês pelos empreendedores russos Alexander e Evgeny Lebedev, que pagaram 24 milhões de libras à Johnston Press pelo jornal.

Colin Morrison, consultor de mídia e antigo executivo do setor de jornais, alertou que o baixo preço do novo título poderia ser "estruturalmente prejudicial" a todo o setor de jornais do Reino Unido.

"Existe a preocupação de que o lançamento possa causar uma guerra de preços e acelerar a tendência de decadência de Fleet Street [a rua que costumava abrigar as sedes dos principais jornais londrinos]", ele disse.

CIRCULAÇÃO

Ao longo dos 10 últimos anos, as companhias jornalísticas britânicas, entre as quais GMG, News UK e DMGT, sofreram grandes quedas de circulação em suas edições em papel, com a fuga dos leitores para a Internet.

Os jornais britânicos agora vendem cerca de sete milhões de cópias ao dia, ante 13 milhões 10 anos atrás.

Enquanto isso, os anunciantes transferiram o dinheiro que costumavam dedicar à mídia impressa, acompanhando os leitores na migração para as mídias digitais. O investimento publicitário em jornais nacionais caiu em um terço de 2010 para cá, para 880 milhões de libras ao ano.

A Trinity Mirror não revelou quanto custaria lançar o novo jornal, que terá equipe de 20 a 30 jornalistas.

"Se você estivesse começando uma empreitada como essa sem os recursos de uma grande editora, a operação seria cara", disse Fox, explicando que o novo título usaria a infraestrutura gráfica e de distribuição já existente da Trinity Mirror.

"Não estamos apostando tudo que temos nisso", completou.

Ian Whittaker, analista da Liberum, disse que o "New Day" parecia direcionado aos leitores do "Metro", o jornal diário distribuído gratuitamente aos passageiros do transporte coletivo. "A questão será determinar se as audiências jovens estarão dispostas a mudar de hábito e comprar um jornal, em lugar de recebê-lo gratuitamente", ele disse.

Morrison estimou que o "New Day" propiciará lucro se conseguir atingir circulação de cerca de 300 mil exemplares.

Mas ele disse que convencer as pessoas a pagar por um jornal seria um desafio –e a Trinity Mirror poderá, no futuro, se sentir tentada a fazer do "New Day" um jornal gratuito.

Afinal, ele diz, dois dos jornais de maior sucesso financeiro no Reino Unido, nos últimos anos, são o "Metro" e o "Evening Standard".

Por enquanto, a Trinity Mirror, cujas ações subiram em 3,35%, para 146,75 pence, na segunda-feira (22), tem por foco ampliar a circulação paga do novo título, antes de sua receita publicitária.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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