Folha de S. Paulo


BIS alerta para crise global motivada por fuga de capitais de emergentes

Carlos Severo/ Fotos Públicas
Emergentes devem ter fuga de capital em 2016
Estoque de crédito para países emergentes caiu ao final de setembro de 2015 ante junho

O aumento dos empréstimos aos mercados emergentes que ajudaram a fomentar o crescimento global nos últimos 15 anos chegou a um impasse e pode agora dar lugar a um "círculo vicioso" de desalavancagem, turbulência nos mercados financeiros e desaceleração econômica global. O alerta foi dado nesta sexta-feira (5) pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), conhecido como o banco central dos bancos centrais.

"No início, o crédito desencadeia um círculo virtuoso no qual as condições parecem melhor do que realmente são", afirmou Hyun Song Shin, chefe de pesquisa do BIS. "Mas os fluxos de capital podem ir rapidamente em marcha à ré e então torna-se um círculo vicioso, especialmente se houver alavancagem", disse Shin ao "Financial Times".

Essa reversão já ocorreu, de acordo com dados do BIS divulgados nesta sexta-feira. O estoque total de crédito denominado em dólares em títulos e empréstimos bancários para os mercados emergentes —incluindo aqueles para governos, empresas e famílias, mas excluindo os bancos— foi de US$ 3,33 trilhões ao final de setembro de 2015, abaixo dos US$ 3,36 trilhões do fim do mês de junho.

Trata-se do primeiro declínio em tais empréstimos desde o primeiro trimestre de 2009, durante a crise financeira global, segundo o BIS.

O dado se acrescenta a uma crescente pilha de evidências que apontam para o aperto nas condições de crédito nos mercados emergentes e uma forte reversão dos fluxos de capitais internacionais.

Na quinta-feira (4), Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), alertou para a uma iminente crise nos mercados emergentes como ameaça ao crescimento global.

O Institutos de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) disse no mês passado que mercados emergentes tiveram saída líquida de capital de US$ 735 bilhões em 2015. Em novembro, o IIF alertou sobre a aproximação de uma crise de crédito nos mercados emergentes.

Este mês, o IIF disse que uma contração, no último ano, da liquidez disponibilizada para o sistema financeiro mundial pelos bancos centrais representava mais uma ameaça do que a desaceleração da China e a queda dos preços do petróleo.

Jaime Caruana, gerente-geral do BIS, disse que a turbulência no mercado de capitais, o crescimento econômico decepcionante, movimentos bruscos nas taxas de câmbio e queda dos preços das matérias-primas eram indicativos de maturação dos ciclos financeiros, particularmente nas economias emergentes, e de mudanças nas condições financeiras globais.

Ele disse que, enquanto algumas economias avançadas tinham reduzido a alavancagem após a crise, a dívida continuou a subir em muitas economias emergentes.

O problema foi agravado, segundo Shin, o chefe de pesquisa do BIS, pela deterioração da qualidade dos ativos financiados pelo 'boom' de empréstimos. Ele observou que o endividamento de empresas em mercados emergentes como uma porcentagem do PIB (Produto Interno Bruto) ultrapassou o dos mercados desenvolvidos em 2013. Ao mesmo tempo, a rentabilidade das companhias de mercados emergentes ficou, pela primeira vez, abaixo daquela de empesas dos mercados desenvolvidos.


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