Folha de S. Paulo


Resgate do FMI a emergentes deve deixar de lado 'estigma', diz Lagarde

Fabrice Coffrini/AFP
International Monetary Fund (IMF) Managing Director Christine Lagarde (L) gestures during a session of the World Economic Forum annual meeting on January 23, 2015. / AFP / FABRICE COFFRINI ORG XMIT: FAB374
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde; ela defendeu uma quebra do estigma negativo de resgates

A demanda de economias emergentes por resgate financeiro de instituições internacionais deve aumentar, prevê a diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde. Para ela, o "estigma" associado a organismos como o FMI deve ser deixado de lado por países em dificuldade.

Lagarde não citou nenhum país específico entre os mais necessitados, mas ressaltou que não se pode generalizar sobre a situação dos emergentes, já que há muita diversidade entre eles.

"Sou cautelosa em colocar todos os emergentes no mesmo grupo. Brasil e Rússia estão em recessão, enquanto outros países como México e Índia estão indo muito bem", afirmou, em teleconferência para jornalistas realizada nesta quinta-feira (4).

Em entrevista recente, a diretora-gerente do Fundo disse que a crise em alguns países emergentes "tem tirado o seu sono", especialmente os de baixa renda que dependem da receita da exportação do petróleo, como a Nigéria.

Há poucos dias, o governo nigeriano pediu ao Banco Mundial e ao Banco de Desenvolvimento Africano um empréstimo de US$ 3,5 bilhões para cobrir o rombo no orçamento causado pela queda no preço do petróleo, sobre o qual sua economia se sustenta. O Azerbaijão, que também depende da receita do petróleo, está em negociações com o Banco Mundial e com o FMI para obter um pacote emergencial de ajuda.

"Alguns emergentes estão enfrentando circunstâncias muito difíceis, e meu palpite é de que haverá mais demanda por ajuda de instituições internacionais e multilaterais como o FMI, tanto em termos de finanças públicas, como em termos da situação geral da balança de pagamanentos", disse Lagarde. "Nós estamos prontos a fazer isso, sem nenhum estigma associado ao relacionamento que temos com esses membros."

Em um discurso feito pouco antes em uma universidade de Maryland, ela alertou para a necessidade de o mundo ampliar a "rede de segurança financeira" a fim de se preparar melhor para uma nova rodada de crises entre os emergentes. Segundo Lagarde, embora essa rede tenha se expandido desde a crise de 2008, ela também se tornou mais "fragmentada e assimétrica".

"Por exemplo, muitos países emergentes não têm acesso às linhas de swap [cambiais] entre os bancos centrais de países avançados. Isso é um desafio porque economias emergentes dependem de modo crítico de moedas de países avançados em suas finanças e comércio", afirmou. Como exemplo da deterioração econômica nos emergentes, ela disse que no ano passado eles tiveram uma fuga de capitais de US$ 531 bilhões, em comparação com a entrada de US$ 48 bilhões em 2014.

Lagarde disse que o FMI estuda modalidades de empréstimo que possam expandir essa rede de segurança financeira, como linhas de crédito precaucionárias "e outros tipos de instrumentos que realmente atendam à situação desses países, como um nível de condicionalidade que dependerá de cada situação".

A aprovação em dezembro de reformas no FMI aumentou os recursos do Fundo para agir em crises e ampliou o poder de decisão de países emergentes, como Brasil, China e Rússia. A diretora-geral defendeu uma "parceria para o crescimento" entre países desenvolvidos e emergentes.

Aos emergentes, recomendou políticas como maior eficiência nos gastos públicos, a fim de tornar o o ajuste fiscal "menos doloroso", e flexibilidade na taxa de câmbio para suavizar o impacto dos choques externos.

Aos desenvolvidos, afirmou que não basta manter a política monetária de juros baixos e que os governos devem também usar políticas fiscais para estimular suas economias, como o financiamento de projetos de infraestrutura.

Para ela, os EUA tem uma "responsabilidade especial", num momento em de normalização de sua política monetária. "É importante que o Federal Reserve [banco central] continue a fazer isso de uma forma prudente e bem comunicada", disse Lagarde.


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