Folha de S. Paulo


JAC Motors só vai produzir 20% do prometido na fábrica da Bahia

Manu Dias/Secom
Cerimonia de lançamento da pedra fundamental da fabrica da JAC Motors na Bahia. Foto: Manu Dias/Secom ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Carro é enterrado em lançamento da pedra fundamental na fábrica da JAC Motors na Bahia

Três anos depois de lançar a pedra fundamental de sua primeira unidade no Brasil, a JAC Motors redimensionou o projeto e vai erguer uma fábrica com capacidade de produção 80% menor.

A construção da fábrica, que deve ser instalada num terreno de 50 mil metros quadrados em Camaçari (BA), vinha sendo sucessivamente adiada por problemas de financiamento. A meta era entregá-la em janeiro de 2014. Agora é no primeiro semestre de 2017.

O projeto previa originalmente um investimento de R$ 1 bilhão para produzir 100 mil carros por ano. No novo formato, serão produzidos apenas 20 mil carros da marca chinesa por ano, em uma fábrica que custará R$ 200 milhões. De início, os carros terão peças e componentes importados.

A mudança no tamanho do projeto é resultado de dois fatores: a saída dos chineses da JAC do projeto da fábrica e o cenário de declínio do setor automotivo no Brasil.

CHINESES

Os chineses da JAC, que tinham 33% de participação no projeto, não vão mais investir na construção da fábrica, que será tocada apenas pelo Grupo SHC, do empresário Sérgio Habib.

"Nesse primeiro momento, vamos fazer a fábrica apenas com capital brasileiro. Mas mantivemos a parceria com os chineses", afirma Eduardo Picingher, diretor de assuntos corporativos da JAC do Brasil.

O desaquecimento do mercado também pesou na decisão. Segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), foram vendidos 2,476 milhões de carros de passeio e veículos comerciais leves em 2015, uma queda de 25,6% em relação ao ano anterior.

A JAC, que chegou a vender 25 mil carros no Brasil em 2012, atualmente importa cerca de 5.000 veículos por ano.

O redimensionamento da fábrica terá impacto direto na geração de postos de trabalho. A perspectiva inicial era gerar 3.500 empregos. A montadora não diz quantas vagas serão necessárias, porque dependerá do percentual de peças que será produzido localmente.

JUDICIALIZAÇÃO

A retomada do projeto da fábrica pela JAC Motors é resultado de pressão do governo da Bahia, que, para trazer o investimento, concedeu incentivos fiscais para que a montadora importasse veículos da China pelo porto de Salvador.

A Folha apurou que o governo baiano ameaçou ir à Justiça para receber os recursos que deixou de arrecadar com a renúncia fiscal. Mas agora entende que, no atual cenário, é melhor garantir a mini-fábrica do que arcar com o passivo político caso a JAC desista do negócio.

Desde 2012, a JAC do Brasil teria obtido pelo menos R$ 100 milhões em redução de ICMS para a importação dos carros via Salvador, montante que teria de ser devolvido caso a montadora não fizesse a fábrica na Bahia.

Nos anos 1990, a montadora chinesa Ásia Motors prometeu uma fábrica no Estado, obteve incentivos fiscais para importação, mas acabou desistindo da empreitada. O governo ainda briga na Justiça por uma restituição.


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