Folha de S. Paulo


Após queda em 2015, crédito para imóveis deve cair 20,6% neste ano

Bruno Santos/Folhapress
Crédito para imóveis deve recuar em 2016, de acordo com Abecip
Crédito para imóveis deve recuar em 2016, de acordo com Abecip

Depois de um tombo de 33% em 2015, o crédito para aquisição e construção de imóveis deve apresentar nova redução em 2016. A Abecip (Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) estima que as concessões de empréstimos somem R$ 60 bilhões neste ano, o que representaria uma queda de 20,6% em relação aos R$ 75,6 bilhões de 2015.

Para Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip, a recessão econômica, a baixa confiança de consumidores e das empresas, a falta de previsibilidade e a crise política continuarão afetando o desempenho do setor em 2016.

Com o volume de empréstimos registrado em 2015, o crédito imobiliário voltou ao patamar de 2011, segundo a entidade. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram financiados 341,5 mil imóveis, queda de 36,6% em comparação com 2014.

Segundo a Abecip, o financiamento de imóveis usados sofreu mais do que os empréstimos para a aquisição de novos no ano passado. Enquanto o crédito para a compra de usados caiu pela metade em relação a 2014, para R$ 23 bilhões, o financiamento de imóveis novos recuou 10% e somou R$ 31,7 bilhões.

"No caso dos imóveis novos, a decisão de compra é antiga. Para comprar um usado, o consumidor, que está menos confiante, está postergando a decisão", disse Abreu Filho. Para a aquisição de imóveis, foram liberados no total R$ 54,8 bilhões no ano passado, retração de 32,7% ante 2014.

Já o financiamento para a construção caiu 33,8% na mesma comparação, influenciado pela redução no número de lançamentos, queda nas vendas das incorporadoras e menor demanda. De janeiro a dezembro de 2015, foram liberados R$ 20,8 bilhões para a construção, ante R$ 31,4 bilhões em igual período do ano anterior.

Os empréstimos com recursos do FGTS, no entanto, mantiveram o crescimento. Impulsionado pelo programa Minha Casa Minha Vida, o financiamento para habitação popular subiu 20,5% em 2015, atingindo R$ 52,7 bilhões.

POUPANÇA

Fonte de recursos para o crédito imobiliário, a caderneta de poupança registrou captação líquida negativa de R$ 50,1 bilhões no ano passado, segundo a Abecip. Com a alta da taxa básica de juros, o ano foi marcado pelos saques de recursos da poupança que migraram para aplicações financeiras com remuneração mais atrativa, atrelada à taxa Selic.

Em dezembro, no entanto, os depósitos voltaram a superar os saques em R$ 4,8 bilhões. Foi a primeira vez desde dezembro de 2014 que a poupança teve mais depósitos do que resgates. Com isso, o saldo voltou a crescer, chegando a R$ 509 bilhões no último mês do ano, ante R$ 501 bilhões em novembro.

Mas, para o presidente da Abecip, ainda é cedo para falar em reversão de tendência. O resultado do último mês ano ano, segundo ele, foi influenciado pelo pagamento do 13º salário. "As pessoas não gastaram o dinheiro do 13º salário. Em geral, os depósitos na poupança aumentam em dezembro, mas em 2015 percebemos esse movimento foi acima da média."

Em 2016, o executivo acredita que o ritmo de saques deve diminuir em comparação com o ano passado, mas a captação líquida deve continuar negativa. Com menos recursos na poupança, o setor deverá buscar alternativas ao funding das operações, como o mercado de capitais.

INADIMPLÊNCIA

A crise econômica também elevou a taxa de inadimplência no setor. Os contratos com mais de três prestações em atraso atingiram 1,9% do total em 2015, acima da taxa de 1,4% verificada no ano anterior. "A inadimplência subiu, mas ainda não é um ponto de atenção", disse o presidente da Abecip.

Segundo ele, os bancos estão se preparando para criar alternativas para que o consumidor consiga efetuar o pagamento das prestações.


Endereço da página:

Links no texto: