Folha de S. Paulo


Empresas ajudam noivos a fazer pedidos de casamento de cinema

Alan Marques - 15.jan.2016/Folhapress
Procurador André Ramos recorreu a serviço especializado para fazer seu pedido de casamento
Procurador André Ramos recorreu a serviço especializado para fazer seu pedido de casamento

"Como você fez tudo isso?", perguntou a farmacêutica Marina Lemos da Cunha, 25, para o publicitário Felipe Bittar, 26, logo antes de ela mesma responder à pergunta que ele havia feito: "Sim, eu aceito". O "tudo isso" a que Cunha se referiu era a estrutura para o pedido de casamento que acabara de aceitar.

A cenografia para o pedido era profissional: um bangalô numa praia em Morro de São Paulo, na Bahia, com um caminho de velas que levava até um jantar romântico e um livro de recortes com fotos e documentos dos seis anos de namoro do casal, um paparazzo escondido para documentar o momento do pedido e uma câmera acoplada na caixinha da aliança, para garantir uma filmagem em tempo real da cara da noiva.

O esquema foi profissional porque tinha o dedo de um profissional por trás: o pedido havia sido concebido pela O Pedido. Fundada em 2014, a empresa reporta ter bolado pedidos de casamento para mais de 50 clientes que preencheram seu formulário on-line, que inclui a música predileta do casal. O crescimento autorreportado é de mais de 100% em um ano (de crise).

Alan Marques - 15.jan.2016/Folhapress
Procurador André Ramos fechou sala de joalheria para pedir Fabíola em casamento
Procurador André Ramos fechou sala de joalheria para pedir Fabíola em casamento

"A procura só cresce", diz Bruna Brito, uma das sócias da empresa. "Em 2015, tivemos mais do dobro da procura, se compararmos com 2014."

O aquecimento do mercado trouxe mais pretendentes para o nicho. Aberta em setembro último, a She Said Jazz é derivada de uma agência especializada em realizar desejos de difícil execução, como jogar uma partida de tênis com a lenda Pete Sampras (realizado).

Mayra Miranda, que trabalhou no marketing da Schutz e da Nestlé antes de empreender, explica que a equipe de sete pessoas da She Said Jazz deve crescer para dez nos primeiros meses de 2016. A inauguração do novo braço foi um dos fatores que levou a empresa a fechar 2015 com um crescimento de 15% no faturamento, que havia sido de R$ 3,5 milhões no ano anterior.

DISNEY ROMÂNTICA

O primeiro contato entre cliente e empresa se dá pela internet, onde o futuro noivo preenche um questionário sobre os gostos do casal, para ajudar as consultoras a pensarem no evento ideal.

O pedido mais simples custa por volta de R$ 5.000 nas agências. Só o céu é o limite para os mais salgados. Até o céu parisiense, para o cliente que fechou a Torre Eiffel por duas horas e desembolsou cerca de € 60 mil no pedido, que ainda envolvia um passeio de barco pelo rio Sena.

Focada num público com menor poder aquisitivo, a empresa de Bruna Brito lançou nas últimas semanas kits temáticos para a ocasião. "Cinema em casa" e "degustação de vinhos" são dois dos temas. As caixas, enviadas pelos Correios, custam a partir de R$ 200 e incluem paramentos para o pedido, mas não o anel. "Vemos que está funcionando com casais que querem ter uma noite especial, mas talvez as pessoas queiram abrir mais a mão na hora de pedir a mão", diz a empresária.

Já a concorrente oferece um pacote com caça ao tesouro na Disneyworld, sendo o tesouro um par de alianças. Custa US$ 3.000. É o bestseller da empresa, mesmo em tempos de dólar quadruplicado em real.

O pedido não tem grande margem de lucro, diz Mayra Miranda, da She Said Jazz. " Às vezes fica quase no zero a zero. Mas é bom para conquistar o cliente e fazer o resto da cadeia", afirma, referindo-se à viagem de lua de mel e outros serviços oferecidos por sua agência.

O público-alvo das empresas do nicho é homem e com poucas ideias de como propôr parceria. "A maioria vem com um briefing muito cru. Às vezes, nem isso", diz Miranda. Bruna Brito, d'O Pedido, concorda: "Eles precisam de uma ajudinha com o conceito também, no mais das vezes". Há exceções, como o procurador André Ramos, 37.

Ramos já sabia que o filme predileto da namorada, a analista jurídica Fabíola Böhmer Ramos, 35, era "Bonequinha de Luxo" e que desejava fazer algo ligado à história de amor da personagem de Audrey Hepburn com uma joalheria.

Procurou a She Said Jazz um mês antes de ir para Nova York e contou sobre a vontade. Pelo preço de uma aliança da Tiffany em Brasilia, onde ele mora, conseguiu fechar uma sala da joalheria da Quinta avenida nova-iorquina, que aparece no filme, comprar o anel e ainda contratar um paparazzo para fotografar a cena.

"Hoje com a internet quase tudo a gente faz sozinho, mas a logística e os contatos são importantes", diz o noivo, "e foi nisso que eles me ajudaram".

Ele afirma que repetiria o investimento, até porque a resposta foi positiva —nenhuma das empresas ressarce o dinheiro em caso de a pergunta "Você quer se casar comigo" ser respondida com um "não".


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