Folha de S. Paulo


Desastre em Mariana afeta venda de campos de petróleo da Petrobras

A Petrobras, que já vem enfrentando problemas para vender seu patrimônio e fazer caixa para pagar suas dívidas, acabou sendo afetada, por tabela, pela tragédia em Mariana (MG), o maior desastre ambiental da história do país.

A BHP Billiton, dona de metade da Samarco, mineradora responsável pelas barragens que romperam em Minas Gerais, havia sido a única a apresentar uma oferta formal pelos campos de petróleo que a estatal colocou à venda. O campo que estava na mira era Tartaruga, na bacia de Campos (RJ).

Só que, depois do desastre em Mariana, a BHP suspendeu o negócio com a Petrobras e pediu um tempo para reavaliar seus investimentos no Brasil.

Ainda não se sabe o tamanho das multas e indenizações que Vale e BHP, sócias na Samarco, serão obrigadas a pagar por conta da lama de rejeitos de minério de ferro que contaminou rios e o oceano em vários Estados.

Dependendo do tamanho do rombo, o negócio com a Petrobras pode não sair.

A BHP avalia vários blocos da estatal, mas a negociação da compra do bloco de Tartaruga avançou mais, pois sua produção está próxima de começar, o que demanda menos investimento.

Há problemas também com o ativo. A área ainda não foi totalmente leiloada, porque parte está no pré-sal: 30,65% continuam sob controle da União. Neste caso, o governo é representado pela PPSA, estatal criada para cuidar do pré-sal.

Segundo a Folha apurou, a União não tem recursos para aplicar no desenvolvimento do campo e solicitou à BHP que financiasse sua parte. O empréstimo seria quitado com o petróleo produzido na própria área.

O problema é que a estatal demanda um amplo prazo de pagamento, sem cobrança de juros.

DESINTERESSE

O campo de Tartaruga também era o único dos seis blocos de petróleo no Brasil oferecidos ao mercado que a estatal tinha chance de vender no curto prazo.

As outras áreas —Pão de Açúcar, Sagitário, Lebre, Carcará e Júpiter (todas no pré-sal)— foram avaliadas por petroleiras internacionais, mas a queda do preço do petróleo e a desconfiança sobre as projeções otimistas da Petrobras para a produção dos campos afugentaram os potenciais candidatos.

Por causa desse desinteresse, a estatal foi obrigada a incluir mais campos em seu portfólio de ofertas. Conforme adiantou a Folha, a Petrobras colocou à venda parte dos campos de Golfinho, na bacia do Espírito Santo, e Baúna, na bacia de Santos. Esses campos já estão produzindo, o que reduz o risco dos investidores.

A estatal também chegou a oferecer 10% da campo de Libra, um dos principais do pré-sal, para seus sócios no negócio: Shell, Total, CNPC e CNOOC. Mas o negócio ainda não vingou.

A Petrobras tem pressa em vender ativos para fazer caixa e melhorar o perfil de sua dívida.

A estatal brasileira é a petroleira mais endividada do mundo com uma dívida líquida de R$ 402 bilhões no final do terceiro trimestre de 2015, a maior parte cotada em dólar.


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