Folha de S. Paulo


Dono da UTC alonga dívida e se livra de tornozeleira

Zanone Fraissat - 14.nov.2014/Folhapress
Ricardo Pessoa, presidente da UTC, ao se entregar na sede da Polícia Federal em São Paulo

O empresário Ricardo Pessoa, um dos principais personagens da Operação Lava Jato —que investiga corrupção na Petrobras–, começou o ano mais leve. Ficou livre da tornozeleira eletrônica e acertou a renegociação da dívida de R$ 1,2 bilhão de sua empresa, a UTC, com bancos.

O sensor na canela, usado desde que ele deixou a cadeia, em abril, foi retirado com autorização da Justiça. Mas o empresário continua sendo monitorado e precisa de permissão judicial quando quiser sair do perímetro da cidade de São Paulo.

A UTC de Pessoa também será monitorada, mas pelos bancos credores que, depois de um ano de negociação, aceitaram alongar o vencimento do débito da empresa por cerca de três anos.

Esse prazo pode ficar até maior, desde que a UTC cumpra condições combinadas com seus credores —Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil são os principais.

A UTC se comprometeu a insistir na tentativa de vender patrimônio para abater sua dívida —agora com mais fôlego. Seu ativo mais vistoso, a participação de 23% no aeroporto de Viracopos, em Campinas, já está à venda.

Com a renegociação, a UTC se torna a primeira empreiteira envolvida no petrolão a acertar seus ponteiros com os bancos. Para ser oficialmente sacramentada, a operação depende da redação final dos contratos e de seus registros em cartório.

Único dono de empreiteira denunciado na Lava Jato com autorização da Justiça para voltar ao trabalho, Ricardo Pessoa não lida diretamente com os credores, mas dá a palavra final nos movimentos de seus funcionários.

COMO FICA A DÍVIDA

Na prática, os bancos vão trocar suas dívidas velhas por debêntures (títulos de dívida) com novas condições. Além de dar mais prazo ao devedor, vão reduzir os juros cobrados em alguns empréstimos de curto prazo, cujos contratos originais previam taxas acima do conjunto da dívida.

Executivos envolvidos na reestruturação da UTC dizem que, com mais prazo para pagar sua dívida, a empresa ganha fôlego para negociar a venda de seus ativos e tentar não se desfazer deles a qualquer preço, como era a tendência neste momento.

Os bancos credores, que também estão pilotando a venda de ativos da UTC, receberam algumas propostas pela fatia em Viracopos, em setembro. A melhor delas, do fundo americano Fortress, de R$ 564 milhões, foi retirada no mês passado.

ENTENDA O CASO

A empresa de Pessoa parou de pagar aos bancos entre o fim de 2014 e o começo de 2015, depois que ele foi preso pela Lava Jato. Como todas as empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras, a UTC ficou sem crédito na praça.

Na época, os bancos credores aceitaram que os pagamentos fossem suspensos até o meio do ano, quando achavam que seria possível chegar a um acordo.

Esse cronograma não foi cumprido, mas as instituições decidiram não cobrar a UTC imediatamente para não ter que reconhecer o prejuízo em balanço.

Continuaram negociando até o acerto da última semana de dezembro. Procurados, a UTC e os bancos não quiseram se pronunciar.

Pessoa, livre da tornozeleira no final do ano e com a renegociação da dívida dependendo apenas de formalidades, passou o Réveillon na Bahia, sua terra natal.

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  • RAIO-X UTC

Receita: R$ 5,5 bilhões (2014)

Dívida: R$ 1,2 bilhão

Principais credores:

Bradesco, BB, Itaú, Santander

Empresas do grupo:

- empreiteira UTC

- construtora Constran

Negócios em que tem participação:

- aeroporto de Viracopos

- linha 6 do metrô de SP

- estaleiro Enseada


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