Folha de S. Paulo


Crise e dólar fizeram Brasil deixar de comprar US$ 57,7 bilhões no exterior

A crise que atinge o país no governo Dilma já levou as empresas e os consumidores brasileiros a comprar US$ 68,2 bilhões a menos no exterior nos últimos dois anos. No período, as importações caíram do recorde de US$ 239,7 bilhões em 2013 para US$ 171,5 bilhões no ano passado.

Só em 2015, quando a recessão atingiu quase 4%, o tombo nas compras externas foi de US$ 57,7 bilhões. "Ninguém esperava uma queda tão grande das importações. O país está parado", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Em 2014 em relação a 2013, quando a economia ficou estagnada com o PIB crescendo apenas 0,1%, as importações recuaram cerca de US$ 10,6 bilhões.

A queda nas importações foi provocada pela recessão, que reduziu o consumo das famílias e os investimentos das empresas, e pela desvalorização cambial, que inviabilizou a importação de alguns itens. No ano passado, o recuo das compras externas chegou a 24,3%.

BALANÇA COMERCIAL - Em US$ bilhões

Em razão desse fraco desempenho, o Brasil conseguiu reverter o deficit comercial de US$ 4 bilhões em 2014 em um superavit de expressivos US$ 19,7 bilhões no ano passado —o maior desde 2011.

"A economia brasileira está reduzindo seu desequilíbrio externo pela via mais dolorosa, que é recessão e câmbio fraco. Poderíamos estar virando esse jogo com mais produtividade e aumento das exportações", avalia Rafael Bistafa, economista da Rosemberg & Associados.

Até novembro, o saldo da conta-corrente, que reúne todas as transações externas do país, estava negativo em US$ 56 bilhões, um valor bem menor que o rombo de US$ 104 bilhões em 2014.

O saldo da balança comercial é uma das partes dessa conta e deve contribuir positivamente neste ano.

A crise do governo Dilma provocou queda nas importações de todas as categorias de uso: bens intermediários, bens de capital, bens de consumo e combustíveis.

Importações por categoria de uso, em US$ bi

Nos bens intermediários, que representam quase metade das importações do país e são insumos para a produção industrial, a queda foi de 20,2% em 2015, para US$ 81,19 bilhões. Nos últimos dois anos, o Brasil importou US$ 25,3 bilhões a menos desses itens.

Em bens de capital, como máquinas e equipamentos, considerados vitais para o investimento e a expansão da produção, as importações também recuaram 20,2% no ano passado, para US$ 37,66 bilhões. No biênio 2014-2015, deixaram de ser adquiridos no exterior US$ 13,99 bilhões.

EXPORTAÇÕES

O real desvalorizado ainda não foi suficiente para melhorar a performance das exportações brasileiras, que estão sofrendo com o fim do boom de commodities global, puxado pelo consumo chinês. As exportações recuaram 14,1% no ano passado, para US$ 191,1 bilhões.

Nos últimos dois anos, o Brasil perdeu US$ 50,9 bilhões em exportações. Em relação ao pico de US$ 256 bilhões atingido em 2011, entraram US$ 64,9 bilhões a menos no país por conta da queda das vendas externas.

DESCENDO A LADEIRA - Líderes da balança comercial têm forte queda de preços

Por seu peso nas exportações, que chega a 45,6%, os produtos básicos foram os maiores responsáveis pela queda. No biênio 2014-2015, o país perdeu US$ 25,8 bilhões na venda de commodities. Só no ano passado, as exportações de produtos básicos caíram 19,5%, enquanto as de manufaturados recuaram 8,2%.

Nas três principais commodities exportadas pelo Brasil, a queda nas vendas em 2015 chegou a 45% no minério de ferro, 18% em carnes bovina e suína e 16% na soja. A queda na receita está diretamente relacionada aos preços. Até novembro, mais recente dado disponível, os preços de soja, minério e petróleo exportados pelo Brasil caíram 24,17%, 49,51% e 49,7%.

"Como a China vai crescer menos em 2016, as cotações podem recuar ainda mais ou, no melhor cenário, estabilizar", diz Castro.


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