Folha de S. Paulo


Astrologia para empresas ganha espaço com incerteza econômica

A incerteza econômica é tão forte e as mudanças, tão rápidas, que empresários buscam todas as formas possíveis de se antecipar ao futuro.

Nesse cenário, um dos métodos que ganha espaço é a astrologia. Entre 2014 e 2015, as buscas pelo termo "mapa astral" no Google quadruplicaram, após trajetória de queda de 80% entre 2005 e 2013.

"A volúpia pelo futuro hoje é tão grande que muitos empresários preferem tentar vários caminhos: fazem todos os métodos de previsão, análise de tendências e também outros mais heterodoxos, como astrologia", diz Silvio Passarelli, diretor da faculdade de administração da Faap.

Segundo o astrólogo Maurício Bernis, a lógica é a de que, assim como a posição relativa dos astros influencia o indivíduo, ela também afeta empresas e investimentos.

Em outubro, ele lançou a Astroinvest, primeira consultoria de astrologia empresarial e financeira do Brasil que oferece assinaturas a partir de R$ 15,30 ao mês.

Entre os serviços oferecidos estão previsões sobre tendências da economia em geral e mapa astral de empresas.

Gabriela Di Bella/Folhapress
Astrólogo Maurício Bernis na sede da sua empresa, a Astroinvest, em São Paulo
Astrólogo Maurício Bernis na sede da sua empresa, a Astroinvest, em São Paulo

Há dez anos, Ignácio Zurita, 65, ouve Bernis antes de tomar decisões importantes para a Avita Incorp, construtora e incorporadora de imóveis da qual é sócio.

Ele usa as previsões para organizar sua agenda de reuniões, definir datas para compra de terrenos, lançar um novo empreendimento e contratar ou demitir funcionários. Zurita paga R$ 3.000 por mês pelo serviço.

"Tenho muitos companheiros da área que, se eu contar que aplico astrologia, vão pensar que sou maluco."

Segundo Passarelli, empresários têm vergonha de admitir que consultam astrólogos.

Raymundo Magliano Neto, diretor da corretora de valores Magliano, usa o mapa astral para avaliar o potencial de novos negócios. "Não custa nada dar sua data e horário de nascimento. As pessoas acham estranho, mas quem quiser fazer negócio comigo, terá que ser assim", diz.

Pelas previsões, o empresário paga cerca de R$ 1.000 por mês a Bernis. Ele diz que existe uma margem de erro nas análises, mas que em geral elas funcionam.

Segundo o presidente da Astroinvest, o percentual de acerto de suas previsões é de 70%, com base nos resultados de mais de 600 empresas.

DISTORÇÃO

Não há comprovação científica de que a astrologia funcione, lembra o professor Andrey Mendonça, coordenador do programa de religião e espiritualidade no consumo e nas empresas da ESPM.

"Embora a astrologia seja muito antiga, ela está baseada nas características que você pode prever nas pessoas que nascem em certa fase do ano. Esse uso oracular, de previsão de futuro, vem do século 19 para cá", diz.

Transpor essa análise da personalidade humana para uma pessoa jurídica é complicado, diz Mendonça.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
O empresário Ignácio Zurita, sócio da Avita Incorp, em seu escritório, em São Paulo
O empresário Ignácio Zurita, sócio da Avita Incorp, em seu escritório, em São Paulo

Passarelli, da Faap, avalia que aplicar astrologia aos negócios é um exagero que decorre da ansiedade dos empresários com o futuro.

"É uma ferramenta de baixa cientificidade. Quão angustiadas estão as empresas na busca do futuro para buscarem a astrologia?"

TARÔ E NUMEROLOGIA

Além da astrologia, o tarô e a numerologia também são populares entre os adeptos de ferramentas heterodoxas de gestão.

Segundo a taróloga Denise Fernandes, 49, as cartas são mais "místicas" que os astros. "É um oráculo, uma busca de respostas em momentos difíceis", afirma.

A dinâmica é semelhante às consultas pessoais. O empresário faz uma pergunta, como "devo mudar a sede do negócio de localização?".

Ele, então, tira algumas cartas do baralho de tarô e Fernandes interpreta a resposta conforme a casa correspondente a cada elemento, como "funcionários" ou "clientes".

A taróloga diz que também é requisitada para orientar ações da área de recursos humanos, com o objetivo de melhorar a harmonia na equipe ou subsidiar decisões de contratação e demissão de pessoas.

"Às vezes há alguns funcionários mais religiosos que não gostam de se submeter à consulta", afirma Fernandes.

Já a especialidade de Yubertson Miranda, 42, é a numerologia. Nesse método, cada letra corresponde a um número de 1 a 9 na chamada tabela pitagórica e, a cada número, é atribuído um significado, como "mudanças" ou "criação".

Segunda Miranda, os principais usos da numerologia empresarial são para nomear negócios e produtos. Para uma organização do ramo de beleza e estética, por exemplo, ajuda ter muitas letras C, L ou U, que correspondem ao número 3, ligado à comunicação.

Ele atende cerca de dez empresários por mês, a R$ 320 por consulta.

"A numerologia é mais uma ferramenta para a empresa ser bem sucedida, mas não faz milagre nem resolve a vida de ninguém", afirma Miranda.

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SEGUNDA OPINIÃO
Astrologia ajudaria tomada de decisão

1. AGENDA
O mapa astral indicaria as datas mais e menos favoráveis para fazer reuniões de negociação

2. LANÇAMENTOS
O posicionamento dos astros indicaria quando a entrada de um novo produto no mercado tem mais chances de ser bem ou mal sucedida

3. INVESTIMENTOS
As previsões de tendências da economia em geral, como se o cenário estaria menos ou mais instável, são utilizadas para que a empresa possa se preparar para momentos difíceis

4. GESTÃO DE PESSOAS
O mapa astral de um funcionário indicaria a compatibilidade dele com a empresa e a equipe, e pode ser usado para contratar ou demitir profissionais


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