Folha de S. Paulo


Brasil precisa de novo modelo de crescimento, diz especialista

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Carlos Braga, professor de economia politica internacional no IMD
Carlos Braga, professor de economia politica internacional no IMD

O Brasil precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento. Da aposta na expansão do crédito, redistribuição de renda e consumo interno, o país deve se voltar para fora e se dedicar ao aumento das exportações.

O processo será lento, mas é importante que o governo pelo menos sinalize aos empresários uma tendência de liberalização, o que poderia contribuir para a retomada dos investimentos.

A análise é de Carlos Braga, professor de Economia Política Internacional no IMD, uma das escolas de negócios mais relevantes do mundo, na Suíça.

"Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento que seja muito mais voltado para fora. Não estou dizendo que isso seja fácil nem que deve ser feito por meio de um choque de liberalização, mas você tem que dar essa sinalização", disse Braga em entrevista à Folha.

"Estamos no meio de uma crise. Em 30 anos de vida profissional, dentro e fora do Brasil, eu nunca vi tanto pessimismo. A situação é realmente dramática e afeta particularmente as decisões de investimento."

Na busca pelo aumento de sua participação no comércio internacional, o professor do IMD defende que o Brasil se "desamarre" do Mercosul.

A preocupação com a relação entre o país e seus vizinhos cresce considerando o novo momento do comércio internacional, marcado pelos mega acordos preferenciais, como o TPP (Tratado Transpacífico), assinado entre Japão, Estados Unidos e outros dez países em outubro.

Como o principal efeito desses acordos é a organização das cadeias produtivas globais, o Brasil precisa se movimentar para fazer parte dessas negociações. Caso contrário, será excluído. "Cada vez que você cria um sistema preferencial, se você não é parte do clube, é afetado", afirma.

CRESCIMENTO LENTO

Apesar de estimular as trocas entre os países, os acordos preferenciais não serão suficientes para proporcionar um crescimento do comércio global nos níveis do século passado.

Na avaliação de Braga, o fim do ciclo de alta das commodities, a desaceleração da economia chinesa e o aumento do protecionismo devem reduzir o ritmo de expansão das exportações mundiais.

Segundo ele, da década de 1990 até a crise financeira internacional, em 2008, o crescimento do comércio internacional era o dobro do PIB mundial. Nos últimos três anos, as taxas foram muito semelhantes. E essa mudança, na opinião do economista, significa um "novo normal" para a economia mundial.

"O que vimos entre 1990 e 2008 não vai se repetir. Vamos ter taxas de crescimento inferiores às que experimentamos naquele período", acredita.


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