Folha de S. Paulo


Tempo saberá mostrar os resultados, afirma ex-ministro Levy

Alan Marques/Folhapress
O ex-ministro Joaquim Levy durante café da manhã com jornalistas, em Brasília
O ex-ministro Joaquim Levy durante café da manhã com jornalistas, em Brasília

Joaquim Levy se despediu do Ministério da Fazenda nesta sexta-feira com a afirmação de que o país corre o risco de andar para trás se o governo não promover reformas que reduzam o gasto público.

O recado ao Planalto tem como alvo a decisão de postergar o envio ao Congresso de reformas como a da Previdência. Na avaliação do ex-ministro, o governo não pode correr o risco de ficar fazendo "mais do mesmo".

Nem seguir "opções equivocadas", como liberar gastos para tentar socorrer alguns setores econômicos.

Em nota divulgada no final da tarde, o ministro disse que ele e sua equipe fizeram o que foi proposto quando assumiu o cargo, pelo menos naquilo que dependia deles.

Afirmou também que chegou ao fim de 2015 preocupado com a situação do país. E que a crise econômica poderá se estender por 2016.

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Ao falar sobre seu legado, disse que "o tempo saberá mostrar os resultados que se colherão de tudo que foi feito até agora" e responsabilizou a turbulência política pela maior parte da crise.

"Seria uma injustiça comigo, com minha equipe e com a presidente Dilma Rousseff achar que o país enfrenta uma recessão pelo fato de termos proposto e, em alguma medida, já implementado um ajuste fiscal. Um ajuste pelo qual ela tem se empenhado."

"Boa parte da queda do PIB decorre de processos políticos, que tiveram importante impacto na economia, criando incerteza e multiplicidade de cenários que levaram à retração da atividade."

Pela manhã, em café com jornalistas, Levy disse que Dilma está envolvida com questões de natureza não econômica que tiram dela "alguns graus de liberdade para tocar uma agenda mais intensa de reformas nesse momento".

Mas se mostrou otimista em relação à possibilidade de que o impeachment da presidente seja evitado, que pode piorar a situação do país, segundo o ex-ministro.

DECEPÇÃO

Durante o evento, Levy não quis confirmar sua saída do cargo, mas admitiu estar conversando com a presidente sobre o assunto.

Torcedor do Botafogo, time campeão da Série B de 2015, o ministro disse que voltar para a primeira divisão dá um pouquinho de trabalho, mas que o Brasil tem condições para reverter o rebaixamento da nota de crédito.

O Brasil perdeu neste semestre o selo de bom pagador dado por duas agências de classificação de risco e entrou na lista de países com maior risco de calote.

Alvo constante de críticas do PT e setores da esquerda, o ministro disse que os defensores do imposto sobre fortunas aprovaram neste ano várias medidas de ajuste, mas não mexeram nas propostas para tributar aplicações no mercado financeiro que trariam mais justiça tributária.

Negou ter sido traído ou boicotado por membros do governo ou do partido, mas disse ter ficado decepcionado com a oportunidade perdida de eliminar brechas na tributação de altas rendas.

Neste semana, o governo colocou em uma medida provisória que já tramitava no Congresso aumento de IR sobre aplicações corrigidas pela taxa básica de juros e o fim da isenção para as letras de crédito LCI e LCA, mas a MP não foi aprovada a tempo para entrar em vigor em 2016.


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