Folha de S. Paulo


Análise

Replicar ideologia de Dilma 1 causaria 'colapso venezuelano'

Jorge Araujo - 24.nov.2015/Folhapress
O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa
O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa

Nelson Barbosa ascendeu na administração petista como um dos ideólogos de uma política econômica que, por exaustão, não poderá ser replicada agora sem o risco de um colapso de proporções argentinas ou venezuelanas.

Mesmo que queira, o novo ministro da Fazenda terá chances remotas de reanimar a economia por meio de aumento do gasto público, da redução da taxa de juros e da expansão da oferta de crédito dos bancos estatais.

Esse conjunto de políticas foi aplicado com sucesso entre o fim de 2008 e meados de 2009, quando o país enfrentava os efeitos do auge da crise internacional, após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers.

MUDANÇA NA FAZENDA
Barbosa substitui Levy no ministério
Joaquim Levy e Nelson Barbosa

Naquele período, o Brasil conseguiu escapar rapidamente de uma recessão, graças à sustentação do consumo das famílias e à recuperação do investimento das empresas –ambas impulsionadas por uma intervenção direta do governo.

Em 2010, a renda nacional cresceu espetaculares 7,5%, e Dilma Rousseff, uma economista adepta do desenvolvimentismo latino-americano, foi eleita presidente.

CONTEXTO

É necessário entender, porém, por que aquela estratégia deu tão certo na época –e tão errado nos anos do primeiro mandato de Dilma.

Em 2008, o país vivia o ciclo de crescimento econômico mais intenso desde o restabelecimento da democracia, com a ajuda decisiva da alta dos preços dos produtos primários de exportação.

Após cinco anos de bonança e recordes da arrecadação de impostos, o governo conseguia ao mesmo tempo expandir gastos sociais e poupar uma parcela das receitas suficiente para reduzir o peso da dívida pública.

Abundante, o dólar era barato e ajudava a conter a inflação, devido à estabilização dos preços dos importados. Juros em queda e programas sociais em alta estimulavam a alta do consumo.

Havia, em resumo, gordura para queimar.

Vivia-se uma transformação, ainda, no mundo das ideias: os países desenvolvidos, mergulhados na onda recessiva, abandonavam as políticas convencionais e ortodoxas; os grandes emergentes despontavam como locomotivas inovadoras da economia mundial.

E o Brasil, em particular, deslumbrava-se com a perspectiva da riqueza do recém-descoberto petróleo da camada do pré-sal.

SEM FÔLEGO - Economia antes e depois da adoção de políticas heterodoxas

CONTRASTE

Não podia ser maior o contraste com o cenário atual: a tentativa de perenizar a política desenvolvimentista no primeiro governo Dilma derrubou as contas públicas, elevou a inflação e minou bancos e empresas estatais.

Com a economia em queda, o governo não arrecada nem sequer o bastante para as despesas básicas com pessoal, custeio administrativo, programas sociais e investimentos. A inflação ainda fez os juros e os gastos com a dívida pública dispararem.

Uma eventual tentativa de expandir os desembolsos do Tesouro elevará a desconfiança dos credores do governo, que procurarão a segurança do dólar. Já em alta, as cotações da moeda americana alimentam a inflação.

As expectativas para os preços em 2016 sobem a cada semana; espera-se um IPCA acima do teto de 6,5%, mesmo com recessão.

Com isso, uma redução dos juros seria, no mínimo, imprudente.

Ampliar os financiamentos dos bancos estatais seria igualmente perigoso –não só porque não há mais dinheiro para injetar nas instituições mas também porque o artifício resultou nas pedaladas condenadas pelo Tribunal de Contas da União.


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