Folha de S. Paulo


Mercado recebe mal indicação de Barbosa e faz dólar encostar em R$ 4

Ed Ferreira - 18.jun.2015/Folhapress
O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa
O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa

A indicação de Nelson Barbosa para o Ministério da Fazenda, no lugar de Joaquim Levy, não foi bem recebida por analistas do mercado financeiro, que temem uma mudança nos rumos da política econômica brasileira.

O dólar à vista, que havia fechado em R$ 3,934 (às 16h, antes do anúncio de Barbosa) com os rumores sobre a substituição, foi negociado a R$ 3,982 no chamado after market (negociações após o fim do pregão).

Embora a troca tenha sido confirmada apenas alguns minutos antes do fechamento da Bolsa brasileira, a tensão com a notícia dominou as negociações ao longo de todo o dia. O Ibovespa, principal índice, fechou em queda de 2,98%, atingindo 43.910 pontos –a menor pontuação desde 7 de abril de 2009.

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As maiores baixas foram registradas pelas ações dos bancos. Itaú Unibanco caiu 5,81%, e o Bradesco, 3,84%.

Levy era visto pelos investidores como interlocutor do mercado financeiro no governo. O temor, agora, é que o setor e suas demandas deixem de ser considerados.

Para Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, a renúncia de Levy é mal recebida pelo mercado pois, além de o país perder um "ministro talentoso", sua saída pode sinalizar a volta de mudanças econômicas consideradas heterodoxas, como as adotadas por Dilma Rousseff no primeiro mandato.

"Isoladamente, o fato de o Levy sair já trouxe mau humor ao mercado", diz Ricardo Kim, analista-chefe da XP Investimentos.

De acordo com ele, a percepção do mercado é de que o Barbosa, mais alinhado à Dilma, pode partir para uma agenda voltada à retomada do crescimento no país, enfraquecendo o ajuste fiscal.

"Antes da confirmação de Barbosa, vários nomes foram citados, até o de Ciro Gomes. Nenhum que indicasse a manutenção da atual tentativa de cortar gastos de Levy", diz Luciano Rostagno, estrategista do Banco Mizuho.

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O CDS (credit default swap), uma espécie de seguro contra o calote da dívida do país, subiu 2,76%, para 490,030 pontos. No início do ano, estava em 200 pontos.

"Os países emergentes que possuem grau de investimento têm o CDS em torno de 150 pontos. O nosso é quase 500, a situação é degradante", diz Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria.

O Brasil já perdeu a classificação, uma espécie de selo de bom pagador, concedida pelas agências Standard & Poor's (em setembro) e Fitch (na última quarta, 16).

Outro indicador de percepção de risco da economia, as taxas de juros subiram. Os juros para janeiro de 2017, que refletem a expectativa sobre o que o BC fará em 2016, passaram de 15,88% para 15,90%.

As taxas de mais longo prazo tiveram altas mais significativas. O juro para janeiro de 2021 foram de 16,130% para 16,330%. A taxa para julho de 2019 fechou em 16,380%, ante cotação de 16,530%.

No mercado internacional, as ADRs (recibos de ações brasileiras negociadas nos EUA) também tiveram queda. Os papéis ordinários da Petrobras caíram 3,87%, para US$ 3,48. As ADRs preferenciais da Vale tiveram baixa de 2,70%, para US$ 2,52.


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