Folha de S. Paulo


'Barbosa fará o que Dilma mandar', diz economista; veja 12 opiniões

Pedro Ladeira
Nelson Barbosa, anunciado como novo ministro da Fazenda
Nelson Barbosa, anunciado como novo ministro da Fazenda

Economistas e representantes do empresariado divergem sobre a nomeação de Nelson Barbosa como ministro da Fazenda. Parte acredita na volta da política econômica adotada no primeiro governo Dilma, marcada pela expansão do crédito público e pela contabilidade criativa.

Outros afirmam que Barbosa conhece os erros do mandato anterior e que ele não representa uma inflexão no modelo adotado por Joaquim Levy, que deixou o governo nesta sexta (18).

Para a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, Barbosa conhece os erros do passado, mas isso não significa que ele não poderá adotar medidas semelhantes como ministro da Fazenda. "O Nelson Barbosa vai fazer o que Dilma mandar ele fazer", afirmou à Folha.

Leia, a seguir, doze opiniões sobre o novo ministro da Fazenda:

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Cecília Acioli/Folhapress

Neste final do primeiro ano do segundo governo Dilma, só sobrou o que nós achávamos que ela faria logo depois de ser reeleita: dobrar a aposta no que foi batizado de nova matriz econômica, com o crédito público sendo um suposto indutor do crescimento, e que trouxe a economia para esse desarranjo que estamos vendo em 2015. O ministro Nelson Barbosa vai fazer o que Dilma mandar ele fazer. Se a Dilma quisesse que outra pessoa conduzisse a política econômica, ela teria mantido o Levy ou teria chamado outra pessoa. Barbosa é um técnico que pensa mais ou menos como a Dilma, mas vai atender o que ela mandar ele fazer e não tem a menor capacidade de negociar com o Congresso.

Monica de Bolle, economista e pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional

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Zanone Fraissat/Folhapress

É uma grande perda para o país a saída de Joaquim Levy do governo. Poucas pessoas chegaram tão preparadas para ocupar o Ministério da Fazenda. O Nelson Barbosa é um homem bem preparado, tem experiência nas finanças do governo e sólida formação acadêmica. Agora, ele carrega esse rótulo [de desenvolvimentista]. O grande desafio dele será reverter essa imagem. Ele está muito associado ao desastre do governo anterior, embora no final tenha divergido.

Ele tem condições de reverter essa imagem porque é inteligente e tem noção dos riscos que viriam se ele não conseguir fazer isso. Não será uma tarefa fácil. Por outro lado, existe uma expectativa do PT de que ele lidere uma política econômica diferente, numa tentativa de reverter a queda de popularidade do governo. Isso seria um desastre porque não existe mais as condições para isso: as famílias já estão endividadas, não há espaço para aumentar gasto público, o problema de crédito não é de oferta.

Mailson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda

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Zanone Fraissat/Folhapress

Tenho plena confiança na capacidade técnica e política do Nelson Barbosa. Ele é talentoso e pragmático. Qualquer tentativa de associá-lo a erros de política econômica do primeiro mandato de Dilma é um erro. Ele pregava mais realismo e pragmatismo na condução da política econômica. Não é radical, é realista. Acena para uma política econômica mais condizente com o cenário atual, mas sem irresponsabilidade. Também está focado no ajuste fiscal, mas não tem nada pior para o ajuste do que a ausência de qualquer perspectiva de crescimento econômico.

Laura Carvalho, economista da USP e colunista da Folha

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Silvia Zamboni - 9.jul.2011/Folhapress

O mercado financeiro não gosta do Nelson Barbosa, que tem um rótulo de desenvolvimentista, um tanto anedótico, mas ele não representa uma política irresponsável; não é um gastão. Na prática, o ministro Joaquim Levy não conseguia implementar o ajuste fiscal. A mudança só formaliza a escolha por um ajuste insuficiente nesse momento. É o que já vinha sendo adotado, portanto não vislumbro uma inflexão na política econômica. O governo tirou uma peça que já não vinha operando para a austeridade -portanto, não representava um ganho de credibilidade- e que era demonizada pelos movimentos sociais.

Gesner Oliveira, economista da GO Associados

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Nunca acreditamos muito que o ministro Levy sozinho levasse o ajuste adiante. Mas ele era uma garantia de que não deixaria passar besteira. Vão tentar vender o Nelson Barbosa como um alinhado às ideias do Levy. Na verdade, ele é da ala desenvolvimentista, defensor da nova matriz econômica. Sempre elogiou o crescimento com desenvolvimento, puxado por bancos públicos de um modo intervencionista. Ele vai querer fazer o primeiro ajuste fiscal sem corte de gastos. Será um ajuste fiscal para inglês ver.

Felipe Miranda, diretor da Empiricus Research

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Joel Silva/Folhapress

Nelson Barbosa está bastante preparado e tem uma visão mais desenvolvimentista. Talvez possa dar mais sensibilidade aos problemas reais da economia, de modo a balancear o ajuste fiscal. Mas o quanto dessa sensibilidade vai significar mudança na forma de ajuste que o Levy tentou fazer, não podemos saber.

Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos)

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Silvia Zamboni\Folhapress

Nelson Barbosa tem um perfil desenvolvimentista, mais alinhado com a presidente Dilma. A presidente Dilma quer um novo plano de desenvolvimento, mas é impossível fazer isso enquanto se está afundando. 2016 vai ser tão ruim quanto 2015; vai ter mais desemprego, mais queda na renda e no consumo. O governo não tem dinheiro para financiar investimento. Não acho que estamos trocando por alguém que vai trazer alguma coisa que o Levy não teria condições para fazer.

Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO

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Karime Xavier/Folhapress

Espero que o Nelson Barbosa não retorne ao modelo anterior, que levou o país a uma crise fiscal muito grave. Acredito que ele tenha experiência para saber que a situação é delicada e que não temos capacidade de adotar uma política de expansão de gastos. Espero que ele mostre ao PT que há necessidade de ser cauteloso nesse primeiro momento. A certeza é de que ele está assumindo um abacaxi -e dos grandes.

Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos)

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Luis Ushirobira - 27.ago.2015/Valor/Folhapress

Barbosa, é responsável, é bom técnico, mas tem a cabeça heterodoxa. Vai seguir, de maneira mais técnica e cautelosa, a mesma fórmula do [ex-ministro Guido] Mantega: expansão monetária baseada em endividamento público. É um desenvolvimentista de esquerda, keynesiano, que pensa como a Dilma. São pessoas que acreditam que com expansão monetária, você vai conseguir reanimar a economia. Isso já deu erradíssimo no primeiro mandato da presidente.

Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria

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Carlos Cecconello/Folhapress

Da forma como Joaquim Levy foi desprestigiado, ele demorou muito para sair. Ninguém duvidava da competência dele, mas suas propostas não tiveram estrutura no campo político. Era um ministro muito conceituado no exterior, que se demitiu. Haverá desdobramentos dessa mudança.

Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)

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Alexandre Rezende - 8.mai.2015/Folhapress

O setor imobiliário gostou muito da indicação do Barbosa. As pessoas têm uma visão do Barbosa que é equivocada. Acham que ele não vai ter disciplina fiscal, o que não é verdade. E a gente estava tendo uma agenda muito ruim com o Levy. Nosso setor achava que o Levy tinha uma visão muito de contador e pouco de estadista. Ele olhava muito o micro, mas não olhava o macro. Nós achamos que o Barbosa tem uma visão macro muito interessante. E o Brasil hoje precisa do micro e do macro.

Rubens Menin, presidente da Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias)

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Arquivo Pessoal

O Joaquim Levy precipitou sua saída, provavelmente se cansou do governo. Esperava-se que essa mudança na Fazenda seria mais negociada. E, entre as opções que havia, o Nelson Barbosa era a mais óbvia. Ele não vai ter coragem de promover os ajustes necessários. Vai ficar trabalhando com regime de bandas para o superávit primário e o mercado não tem mais paciência. A reação deve ser negativa.

Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e colunista da Folha


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