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Dólar comercial encosta em R$ 3,95 com troca de comando na Fazenda

Pedro Ladeira/Folhapress
Coletiva dos Ministros Nelson Barbosa e Joaquim Levy sobre corte de gastos. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda) em entrevista coletiva

Rumores sobre a substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, fizeram o dólar subir mais de 1% e derrubaram a Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18). A confirmação da troca foi feita após o fechamento do mercado.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 1,17%, para R$ 3,939 na venda. É o maior valor desde 2 de outubro, quando valia R$ 3,968. Na semana, houve valorização de 1,43% —foi a segunda semana seguida de alta.

Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, subiu 1,43% no dia e 1,99% na semana, para R$ 3,949. É o maior valor desde 1º de outubro, quando valia R$ 4,004. No exterior, o dólar subiu apenas sobre cinco das 24 principais moedas emergentes do mundo. O real liderou as divisas que perderam força contra o dólar no dia.

DÓLAR
Saiba mais sobre a moeda americana
NOTAS DE DÓLAR

A moeda americana subiu desde a abertura das negociações nesta sexta-feira, após a decisão do STF (Superior Tribunal Federal) na véspera de acatar as demandas do governo Dilma Rousseff sobre o rito do processo de impeachment, dando ao Senado o poder de rejeitar a instauração do impedimento do mandato da presidente.

O Banco Central do Brasil deu continuidade nesta sessão aos seus leilões diários de swaps cambiais para estender os vencimentos de contratos que estão previstos para o mês que vem. A operação, que equivale a uma venda futura de dólares, movimentou US$ 545,1 milhões.

QUEDA DO LEVY

A saída de Levy da Fazenda adiciona pessimismo entre os investidores em relação ao quadro político brasileiro, uma vez que o ministro é um dos maiores defensores do ajuste fiscal dentro do atual governo.

"O próprio Levy falava que o Planalto tem medo de reforma. Pela primeira vez o Levy colocou um ajuste fiscal à tona, tentou cortar ministérios, fazer com que o governo gastasse menos", disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. "Saiu alguém do governo para entrar alguém do governo. Houve oportunidade de entender o problema crônico e chamar alguém de fora em prol do país, e isso não aconteceu."

MUDANÇA NA FAZENDA
Barbosa substitui Levy no ministério
Joaquim Levy

Luciano Rostagno, estrategista do Banco Mizuho do Brasil, avalia que a escolha do Barbosa pode fortalecer o receio de que a presidente Dilma volte a focar na matriz econômica de seu governo.

"O foco era no corte de juros e aumento dos gastos públicos para que o Estado fosse o indutor do crescimento do país. Foram justamente esses gastos que nos levaram à crise atual", diz. "Agora que o Brasil já não tem mais grau de investimento em duas grandes agências de risco, o mercado teme que a presidente esteja menos disposta a adotar medidas de ajuste fiscal que são impopulares para tentar terminar seu mandato."

A deterioração da crise política no país pressionou as taxas de juros futuros de longo prazo na BM&FBovespa nesta sexta-feira. O contrato para janeiro de 2021 subiu de 16,130% para 16,330%, enquanto o DI para fevereiro de 2016 se manteve em 14,269%.

BOLSA EM BAIXA

O principal índice da Bolsa brasileira fechou em queda nesta sexta-feira, pressionado pelo cenário político e pela realização de lucros nos mercados acionários dos Estados Unidos e da Europa.

O recuo das ações de bancos e da Petrobras empurrou o Ibovespa para baixo. O Ibovespa perdeu 2,98% no dia, para 43.910 pontos. O volume financeiro foi de R$ 7,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa recuou 2,99% —foi a quarta semana consecutiva de perda do índice.

As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, caíram 2,50%, para R$ 7,02 cada uma. As ordinárias, com direito a voto, tiveram baixa de 1,81%, a R$ 8,66.

No setor bancário, segmento com a maior participação dentro do índice, recuaram o Itaú Unibanco (-5,81%), o Bradesco (-3,84%), o Santander (-4,88%) e o Banco do Brasil (-2,68%).

BTG

Fora do Ibovespa, as units do BTG Pactual subiram 3,85%, para R$ 16,20. As ações da rede de drogarias Brasil Pharma, cujo maior acionista é o BTG Pactual, recuaram 6,78%, para R$ 5,50 cada uma.

Na véspera, o STF acolheu argumentos da defesa do banqueiro André Esteves, ex-presidente do BTG, e determinou que ele saia da prisão. Esteves havia sido preso em 25 de novembro, no âmbito da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

Desde então, as units do banco BTG já perderam 47,6% de seu valor. Os papéis da Brasil Pharma cederam 71,8% no período.


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