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Saída de Levy seria 'uma lástima', diz presidente do Santander Brasil

Alan Marques/Folhapress
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante café da manhã com jornalistas setoristas, no Ministério da Fazenda, em Brasília (DF)
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante café da manhã com jornalistas

O Brasil precisa criar um ambiente de estabilidade política e econômica para voltar a crescer, e uma possível saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda seria uma lástima para o país, afirmou o presidente do Santander Brasil, Jesús Zabalza.

Para ele, o Brasil precisa encontrar uma rota de estabilidade para pensar em voltar a crescer a partir de 2017, e mudanças no comando da Fazenda ampliam as incertezas no país.

Zabalza disse em entrevista à Reuters que o ponto de partida da retomada da economia passa obrigatoriamente pelo esforço e pelo ajuste fiscal, bandeira que vem sendo defendida por Levy.

Joaquim Levy
Mudança no comando da Fazenda
Joaquim Levy

"A saída dele seria uma lástima; ele é um ministro com uma impressionante preparação técnica, com boas idéias e com um bom diagnóstico da economia do país e das medidas a serem tomadas", disse Zabalza à Reuters durante um intervalo de evento com empresários no Rio de Janeiro na noite de quinta-feira (17).

"O Brasil precisa de sustentabilidade da confiança institucional para a economia voltar a crescer... precisamos de estabilidade política e econômica", acrescentou.

Zabalza vai trocar de cargos com o atual presidente do conselho do Santander Brasil, Sergio Rial, a partir de 1º de janeiro, em decisão tomada pelo grupo financeiro em setembro.

As especulações sobre a saída Levy se intensificaram nesta semana depois que o ministro foi derrotado na disputa sobre a meta de superávit primário de 2016. Ele defendia a meta de 0,7% do PIB, mas o governo reduziu o objetivo para 0,5%.

"O ano de 2016 será mais um de dificuldade para o país", avaliou Zabalza. "O compromisso fiscal é fundamental para arrumar a situação econômica do país."

Um dia depois da mudança da meta o Brasil perdeu o grau de investimento pela Fitch, no segundo rebaixamento agência de classificação de risco neste ano.

Sem citar nomes, Zabalza se mostrou contrário a uma visão mais desenvolvimentista na Fazenda, em tempos de recessão, queda de receita e gastos ainda elevados.

"A hora é de poupar e gastar bem", afirmou ele. "A estabilidade é fundamental para criar confiança e gerar investimento", disse o presidente do Santander Brasil.

As Derrotas de Levy

INADIMPLÊNCIA

Zabalza previu que a carteira de crédito do Santander Brasil vai crescer na média do mercado em 2016, em torno de 5%.

"Acho que 2016 vai ser igual a 2015. As famílias não estão consumindo e as empresas não estão investindo. Vamos ter que estar muito perto dos clientes para salvar um ano que será difícil. Se não vai haver crescimento econômico não vamos crescer muito também", afirmou.

"O consenso é que o crédito vai crescer uns 5% ou 6%, mas com uma inflação acima disso, o resultado real será negativo", acrescentou.

A aposta do banco é expandir o número de clientes, aumentar a base em regiões como Centro-Oeste, em razão do agronegócio, e, no Nordeste, em virtude do aumento de renda observado em anos anteriores.
Por outro lado, inevitavelmente, a inadimplência tende a aumentar em 2016 diante de inflação alta, massa salarial em queda e demissões no mercado do trabalho.

"Obviamente com desemprego e renda disponível menores para pessoas e empresas, a inadimplência vai crescer, talvez levemente. Vai ser um ano complicado... somos um reflexo da economia do país", resumiu.


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