Folha de S. Paulo


Governo teme que Fitch retire selo de bom pagador do Brasil até janeiro

O governo Dilma teme que a agência de classificação de risco Fitch retire do Brasil o selo de bom pagador até o próximo mês, ainda antes que a Moody's, cuja decisão deve ser tomada num prazo de três meses.

O rebaixamento deve gerar uma saída de moeda estrangeira do país.

Segundo assessores presidenciais, a Fitch já sinalizou para a equipe econômica que está próxima de rebaixar a nota brasileira.

A Folha apurou que, depois que a Fitch colocou a nota brasileira a um passo da perda do grau de investimento (perspectiva negativa), em outubro, a Secretaria do Tesouro Nacional havia conseguido adiar em dois meses qualquer decisão da agência.

Durante a trégua, o governo esperava aprovar medidas para melhorar as contas públicas. A situação econômica e política, porém, se deteriorou rapidamente.

Jogo dos ratings das agências de risco

Com um novo rebaixamento, o Brasil estará classificado como investimento de risco por duas agências –a Standard & Poor's já retirou do país o grau de investimento e ameaça, inclusive, fazer novos rebaixamentos.

Alguns investidores, como fundos de pensão, são obrigados, por suas regras, a tirar suas aplicações de países que perdem o selo de bom pagador de duas agências.

Analistas de mercado calculam que esse cenário poderá levar a uma saída de algo entre US$ 2 bilhões a US$ 5 bilhões a depender do quadro político do momento, provocando pressões sobre a cotação do dólar no Brasil.

Como termo de comparação, o fluxo cambial neste ano, até a primeira semana deste mês, era de US$ 11,9 bilhões, segundo o Banco Central. No ano de 2014, o fluxo cambial foi US$ 4,3 bilhões.

CENÁRIO PREVISÍVEL

Assessores presidenciais avaliam que o risco de a Fitch rebaixar a nota brasileira é elevado, já que o governo deve fechar o ano sem condições de demonstrar força para aprovar medidas que garantam um superavit primário de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2016.

Para assegurar esse resultado, o governo propõe entre outras medidas recriar a CPMF (imposto sobre movimentação financeira), o que encontra forte resistência por parte dos parlamentares. A repatriação de recursos de brasileiros no exterior que foram remetidos sem o pagamento de imposto é outra medida pendente de aprovação.

A equipe econômica está pessimista, diante do agravamento da crise política, quanto a conseguir aprovar qualquer medida de aumento de receita entre o final deste ano e o início do próximo.

O início do processo de impeachment contra a presidente Dilma gerou uma paralisia nas votações, que já estavam praticamente interrompidas nas últimas semanas no Legislativo.

Uma mudança na tendência de rebaixamento da nota brasileira pode ocorrer, segundo analistas de mercado, caso o cenário brasileiro indique que haverá uma solução política para a crise.

O governo trabalha com um plano B caso não consiga aprovar as medidas no Legislativo. Seriam propostas que não precisam do aval do Congresso, como o aumento da Cide (contribuição que incide sobre combustíveis).

Classificação de risco

E EU COM ISSO? A NOTA E SEU BOLSO

1 O que é a nota de risco?

Uma avaliação da capacidade de países ou empresas para pagar suas dívidas

2 Quem faz a avaliação?

As chamadas agências de rating. As três principais são a S&P, a Moody's e a Fitch

3 Quais os critérios de avaliação?

O principal, no caso de um país, é o estado das contas públicas, ou seja, se o governo conseguirá manter seus gastos menores que as receitas para permitir o pagamento dos empréstimos

4 Qual a situação do Brasil?

O país deve fechar o ano com rombo nas contas públicas pela segunda vez consecutiva. A dívida pública brasileira, como porcentagem do PIB, é crescente

5 Como estão as notas de risco brasileiras?

A agência S&P já havia tirado do Brasil o grau de investimento (selo de bom pagador), colocando o país no grupo de países com grau especulativo (mais risco de calote). A Fitch já avisara que poderia fazer o mesmo e, agora, a Moody's deu o mesmo aviso

6 Por que a Moody's vai revisar a nota?

A agência afirmou que as condições econômicas e a governabilidade pioraram rapidamente, o que reduz a capacidade de o governo poupar para pagar sua dívida

7 Isso quer dizer que o país perderá o grau de investimento?

Para manter a nota, seria preciso haver no curto prazo evidências de que o PIB brasileiro possa crescer cerca de 2% em 2016 e o país consiga poupar 2% do PIB para pagar suas dívidas. As duas premissas são muito improváveis

8 Qual o problema de perder o grau de investimento?

  • Quanto mais baixa a nota de um país ou empresa, mais altos são os juros exigidos pelos credores para conceder crédito
  • Se mais uma grande agência rebaixar o Brasil, grandes investidores são obrigados a retirar dinheiro do país
  • Como consequência desses dois movimentos, a recessão se agrava, a dívida tende a subir e o dólar fica ainda mais caro, pressionando a inflação

Endereço da página:

Links no texto: