Folha de S. Paulo


Serviços de streaming de música têm prejuízos e vivem cenário sombrio

Lionel Bonaventure - 9.dez.2012/AFP
Smartphone conectado ao aplicativo Deezer, serviço de streaming de música
Smartphone conectado ao aplicativo Deezer, serviço de streaming de música

Para as gravadoras, o streaming de música é um grande negócio. Elas faturaram no ano passado US$ 2,2 bilhões com serviços como Spotify, Deezer e Pandora –valor que quintuplicou em cinco anos.

Já para os amantes da música, esta é a era dourada: ouvir uma canção nunca foi tão fácil.

O cenário muda, porém, para os serviços de streaming: para eles, sobreviver é uma luta. Nenhum dos serviços mais populares registrou lucro até agora e algumas pessoas duvidam de que um dia venham a fazê-lo.

No mês passado, a Rdio, uma start-up de streaming lançada em 2010 nos EUA por fundadores do Skype, pediu concordata, e deve mais de US$ 210 milhões a credores.

Um mês antes, o serviço francês de streaming Deezer abortou uma tentativa de arrecadar € 300 milhões com a venda de ações em Bolsa, depois que investidores expressaram hesitação diante do número proposto para seu valor de mercado, € 1 bilhão.

O futuro parece sombrio para as empresas cujo único negócio é o streaming de música. Número crescente de investidores e de pessoas na indústria fonográfica antecipa que a distribuição de música digital venha a ser dominada por alguns poucos grupos de tecnologia, grandes e dotados de reservas de caixa generosas –especialmente Apple, Google e Amazon.

"Quando você tem uma empresa como a Apple lutando contra você, se torna muito difícil sobreviver", disse Mark Tluszcz, presidente-executivo da Mangrove, grupo de capital para empreendimentos que foi um dos primeiros investidores na Rdio.

Mario Tama - 27.jun.2013/AFP
Mulher caminha em corredor na sede do Spotify, em Nova York
Mulher caminha em corredor na sede do Spotify, em Nova York

À MERCÊ

O desafio fundamental para os serviços de streaming é que eles estão à mercê dos detentores dos direitos sobre a música, como Sony Music Entertainment, Universal Music Group e Warner Music Group.

Essas três gravadoras, somadas, controlam cerca de três quartos do mercado mundial de música gravada, que movimenta aproximadamente US$ 15 bilhões ao ano.

Para ter chance de atrair grande número de assinantes, um grupo de streaming precisa oferecer vasto catálogo de canções de todas as três grandes gravadoras.

Isso significa que o serviço essencialmente não tem escolha a não ser aceitar os termos exigidos pelas grandes gravadoras, por mais onerosos que sejam.

Mesmo o Spotify, o líder do mercado, é pesadamente deficitário. A companhia tem mais de 20 milhões de assinantes, que pagam cerca de US$ 10 ao mês por acesso a um catálogo com mais de 30 milhões de canções.

Também oferece uma versão grátis do serviço, que dá aos usuários menos controle sobre as canções que ouvem e inclui publicidade.

Sob os termos dos contratos de licenciamento do Spotify, ele precisa pagar 70% de sua receita em forma de royalties para as gravadoras e as editoras de música. Como resultado, embora a receita da empresa tenha disparado para quase € 1,1 bilhão no ano passado, houve prejuízo operacional de € 165 milhões.

O Spotify por enquanto tem capacidade de absorver seus prejuízos. A companhia sueca levantou mais de US$ 500 milhões e seu valor de mercado é avaliado em US$ 8,5 bilhões.

Mas o setor de capital para empreendimentos praticamente secou para as empresas de streaming de menor porte, e muitas delas estão desaparecendo. O número de companhias licenciadas para streaming de música caiu em cerca de cem nos últimos três anos, para por volta de 400, segundo a IFPI, a organização da indústria fonográfica.

Mario Anzuoni - 16.nov.2011/Reuters
O diretor de Engenharia do Google, Chris Yerga, durante a apresentação do Google Music
O diretor de Engenharia do Google, Chris Yerga, durante a apresentação do Google Music

BRIGA DE GIGANTES

O que dificulta ainda mais as coisas para as operadoras independentes é que elas precisam concorrer contra grupos de tecnologia que subsidiam suas operações de streaming a fim de atingir metas comerciais mais amplas.

A Apple, cujo faturamento anual excede os US$ 230 bilhões, há muito aceita prejuízos com a música a fim de ajudar na venda de aparelhos como o iPhone, primeiro com a loja iTunes de download e agora com o serviço de streaming Apple Music.

Google, Amazon e algumas companhias de telecomunicações também estão usando o streaming de música a fim de atrair internautas às suas esferas de influência –e pagam alegremente às gravadoras um preço generoso pelo privilégio. Em curto prazo, isso vem elevando as receitas da indústria fonográfica.

Mas Anthony Bay, presidente-executivo da Rdio, diz que a falta de lucros do streaming é um mau presságio para o setor no longo prazo.

"Não existem indústrias saudáveis neste planeta em que os canais de distribuição não lucrem", ele afirma.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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