Folha de S. Paulo


Petroleiras ameaçam ir à Justiça caso ANP se recuse a negociar perdão

Petrobras/Bloomberg
Funcionário caminha pela plataforma da Petrobras no campo Jubarte, no Espírito Santo
Funcionário caminha pela plataforma da Petrobras no campo Jubarte, no Espírito Santo

As petroleiras com operação no Brasil ameaçam ir à Justiça caso a ANP se recuse a negociar perdão nos compromissos de conteúdo local.

As empresas argumentam que o "waiver", termo usado para o perdão das multas, está previsto em contrato para casos em que não há similar nacional em condições de igualdade com equipamentos estrangeiros.

"A situação ainda não estourou porque o diálogo com a ANP está restrito à Petrobras, que é a operadora dos principais blocos e não queria enfrentar o governo", diz um executivo de empresa sócia da estatal no pré-sal. "Mas a Petrobras passou a defender mais os seus interesses como empresa e as coisas estão caminhando para o confronto."

As dificuldades não se restringem à estatal. A maior parte das multas aplicadas até agora por não cumprimento de conteúdo local refere-se à fase de exploração, na qual as sondas têm grande peso.

Até agora, foram aplicadas multas de mais de R$ 600 milhões. A britânica BG recebeu a maior punição: R$ 275 milhões. Com desconto, a empresa pagou R$ 192,8 milhões.

Segundo estimativas do mercado, o valor pode ultrapassar R$ 2 bilhões se todos os casos já em análise resultarem em penalidade –nas áreas do pré-sal, essa avaliação ainda não começou.

Em evento no Rio nesta quinta-feira (3), o professor do Instituto de Economia da UFRJ e ex-diretor do BNDES Ernani Torres disse que as multas podem somar R$ 10 bilhões.

Torres sugeriu a flexibilização das penalidades, considerando que o mercado passa por dificuldades em razão da queda no preço do barril para cerca de US$ 40 –estava em mais de US$ 100 pouco mais de um ano atrás.

"São recursos represados, que poderiam ser usados em investimentos. Estamos matando a galinha dos ovos de ouro", afirmou.

A discussão surge num momento em que a relação das petroleiras com a ANP está estremecida devido a mudanças nos contratos de concessão desfavoráveis às empresas. Elas foram apontadas como a principal razão da ausência de grandes companhias no último leilão de blocos de petróleo, em outubro.


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