Folha de S. Paulo


Japão investe em asilos-cassino no estilo Las Vegas para entreter idosos

Atsushi Tsukada - 17.out.2002/Associated Press
Mesa de roleta em cassino de Tóquio, no Japão
Mesa de roleta em Tóquio, no Japão

Para milhões de japoneses da terceira idade, a hora é de adotar os serviços de asilo em estilo Las Vegas –com barulhentas máquinas caça-níqueis, cartas sobre o feltro verde e pilhas de fichas para a mesa de bacará.

Para os empreendedores, que abriram até 60 estabelecimentos como esse no Japão nos últimos 12 meses, o conceito representa uma aposta potencialmente lucrativa no consumo da terceira idade e nos polpudos subsídios do governo disponíveis para serviços de asilos e creches.

Para o premiê Shinzo Abe, asilos para idosos inspirados no ambiente de cassinos podem ser um dos pilares para reanimar a economia do país.

O plano cria, ainda, ocupação para alguns dos 10 milhões de japoneses com idade superior a 80 anos e libera a força de trabalho de profissionais que, de outra forma, se dedicariam a cuidar de parentes idosos e frágeis –algo que acontece para cerca de 100 mil trabalhadores por ano.

Abe prometeu reduzir esse número a zero até 2020, e suas chances de atingir essa meta serão melhores, segundo os proprietários do Las Vegas Tsuzuki, se os serviços de asilo forem uma opção atraente.

DINHEIRO DE BRINQUEDO

Como no Japão os jogos de azar são ilegais (o bilionário americano Sheldon Adelson, do setor de cassinos, teve rejeitado seu plano de abrir casa de apostas no país), a moeda usada é falsa e só pode ser "convertida" por meio de exercícios físicos.

Trata-se de uma rotina de aquecimento conhecida como "alongamento Vegas", ao som de canções de Lady Gaga, mas adaptada a apostadores que se movem hesitantemente ou com a ajuda de cadeiras de rodas.

O incentivo não é dinheiro, mas a honra de conquistar a taça de "campeão do dia". Antes de a primeira ficha ser apostada, todos os fregueses passam por verificações de temperatura e pressão sanguínea.

"A situação é que temos um número crescente de idosos. Se eles ficam em casa sozinhos, pioram, e a carga para o país aumenta", diz Kaoru Mori, dono de dez estabelecimentos como esse.

Com o aprofundamento da crise demográfica, o número de asilos para idosos dobrou de 2010 para cá, para 40 mil. Mas Mori diz que a maioria delas oferece atividades infantis. "Eles são adultos, querem atividades sérias".

No entanto, alguns governos locais (como a cidade de Kobe), que subsidiam pesadamente os serviços de amparo a idosos, relutam em encorajar jogos de azar.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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