Folha de S. Paulo


Comum nos EUA, ajuda de ex-alunos a universidades engatinha no Brasil

Eduardo Anizelli/Folhapress
Renato Meloni (esq.) e Ricardo Milani, do fundo Amigos da Poli
Renato Meloni (esq.) e Ricardo Milani, do fundo Amigos da Poli

Alunos da Escola Politécnica da USP terão em breve um método que recicla o mercúrio metálico usado nos laboratórios. Receberão novas impressoras 3D para desenvolver próteses médicas.

Podem também cursar uma disciplina baseada no currículo da universidade americana de ponta Stanford para agregar conhecimento de design e administração e aprender a lidar com problemas reais de empresas.

Mas nada disso parte do orçamento público da universidade. Vem dos rendimentos do fundo Amigos da Poli, apoiado por empresas e nomes do empresariado como Roberto Setubal (Itaú).

Criado em 2012, o fundo já traz resultados e começa a inspirar iniciativas semelhantes em outras instituições.

O fundo, que ultrapassa agora R$ 6 milhões, segue o modelo de fundos patrimoniais de universidades estrangeiras, conhecidos como fundos "endowment", que usam os rendimentos dos recursos captados para financiar projetos ligados ao curso.

"O edital deste ano selecionou 11 projetos de alunos e professores que receberão R$ 350 mil. É um aumento de 40% sobre o do ano passado", diz Renato Meloni, ex-aluno e um dos diretores do fundo.

Os recursos já renderam aos alunos da Poli a participação, e a vitória, em competições internacionais para o desenvolvimento de robôs.

REFERÊNCIA

O "endowment" da Universidade Harvard, que é o maior deles e a grande referência na área, supera US$ 30 bilhões.

O modelo ainda é raro no Brasil, segundo Camila Du Plessis, gerente de relacionamento institucional do Insper, que não conta com um "endowment", mas tem um programa ambicioso de captação de doações para bancar estudos.

"No Insper, captamos anualmente porque nossos fundos de bolsas usam o capital, e não só os juros", diz.

Para Plessis, a maior dificuldade na evolução do "endowment" no Brasil é a falta de uma cultura de filantropia, pois ele requer doações significativas. A ausência de uma legislação que incentive a doação é outro agravante, segundo Plessis. "Nos EUA, há quem faça uma doação de dezenas de milhões de dólares para constituir uma área de pesquisa em Harvard."

A FGV Direito SP tem a sua Associação Endowment, fundada por ex-alunos, professores e outras pessoas interessadas em apoiar estudantes que, embora sejam beneficiados por bolsas de estudos oferecidas pela instituição, continuam carentes de recursos para bancar outros custos ligados à rotina de uma faculdade cuja mensalidade hoje supera os R$ 4.000.

São R$ 850 para despesas como transporte, alimentação, livros e xerox. Hoje, há 16 alunos beneficiados.


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