Folha de S. Paulo


Banco Central estuda como evitar que André Esteves volte à chefia do BTG

Na avaliação do Banco Central, o banqueiro André Esteves deveria ficar afastado da administração do BTG Pactual mesmo se for solto.

Esteves está preso temporariamente no Rio de Janeiro desde a manhã de quarta-feira (25), sob a acusação de tentar obstruir investigações da Operação Lava Jato.

Na visão da autoridade que regula o setor bancário, o retorno de Esteves ao comando da instituição enquanto ainda pairam suspeitas sobre seu envolvimento no caso poderia prejudicar ainda mais a imagem do banco.

Segundo apurou a Folha, o BC acredita haver, inclusive, caminhos legais para forçar a saída do banqueiro caso ele seja liberado e insista em manter seu posto na instituição financeira.

Como regulador do setor, a autoridade monetária tem a prerrogativa de autorizar nomes para cargos estatutários de instituições financeiras do país. A avaliação é que possui instrumentos também para interromper mandatos caso a medida ajude a garantir a saúde financeira de um banco.

Essa seria, contudo, uma medida extrema, que só seria de fato tomada caso a situação financeira do banco se complicasse.

SITUAÇÃO PECULIAR

Para o Banco Central, a situação de Esteves é única, já que ele é dono, presidente e presidente do conselho de administração do banco e sua imagem está diretamente ligada à da instituição. O BTG, com R$ 155 bilhões de ativos, é a sétima maior instituição financeira do país.

O BC solicitou à força tarefa da Operação Lava Jato os documentos que embasaram o pedido de prisão de Esteves. A autoridade entende que precisar analisar o material e verificar se há elementos para medidas administrativas.

A princípio, elas seriam necessárias diante de evidências de que Esteves pretendia usar a estrutura do BTG para atrapalhar as investigações. Caso se prove que o plano era atuar individualmente, não haveria motivos para ação.

A área de fiscalização do BC também monitora o volume de recursos em caixa no banco e os saques feitos por investidores desde a manhã de quarta-feira, quando a prisão de Esteves veio a público. Até o momento, a situação é considerada sob controle.

Procurados pela reportagem, o Banco Central e o BTG Pactual não quiseram comentar as informações.

A Folha apurou com sócios do BTG que, em princípio, Esteves retomará a presidência do banco quando liberado.

Por dentro do BGT

Eles afirmam ainda que, por enquanto, não cogitam comprar a participação do banqueiro no BTG.

O movimento foi aventado pelo mercado como forma de isolar da instituição os problemas do executivo.

Segundo os sócios, discutir a saída de Esteves neste momento seria o mesmo que admitir seu envolvimento com a corrupção na Petrobras, o que eles dizem não acreditar.

EM OBSERVAÇÃO

A simbiose entre o executivo e o banco também preocupa as agências de classificação de risco, que já ameaçam rebaixar a nota do BTG.

Fitch, Moody's e Standard & Poor's colocaram as notas em observação. O problema, segundo elas, é que a forte associação da imagem de Esteves à do banco pode reduzir a credibilidade da instituição no mercado e, como consequência, sua liquidez.

A Fitch classifica o banqueiro como um presidente "atuante e carismático", o que pode prejudicar o processo de sucessão caso sua saída definitiva seja confirmada.

"Reputação, imagem, confiança, são todos valores importantes na gestão de um banco como esse", afirmou Eduardo Ribas, analista do BTG na Fitch.

"E na avaliação do perfil de crédito e risco da instituição, vai ser importante considerar tanto os aspectos financeiros quanto os efeitos com relação a isso", disse.

Para Ribas, se ficar claro que não houve ligação entre as ações do presidente e os negócios do banco, haverá, em algum momento, uma desconexão entre a figura de Esteves e a instituição.

Desde o anúncio da prisão do banqueiro pela Polícia Federal, o preço dos papéis da instituição na Bolsa brasileira caiu 23,28%.


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