Folha de S. Paulo


Com vendas em queda, Papai Noel deve se tornar artigo de luxo em SP

Com a experiência de ter feito participação especial em uma novela de época da Globo –uma cena como bilheteiro em uma estação de trem–, Hélio Mendes da Costa Filho, 61, quer deslanchar sua carreira como ator. O próximo papel que o garçom, desempregado desde julho, quer representar é o de Papai Noel.

Ele era um dos 20 participantes do curso gratuito para aprender a ser um bom velhinho, realizado pela Claus Produções Artísticas na última quinta-feira (19), em São Paulo. A empresa, do Papai Noel Silvio Ribeiro, é especializada em oferecer a oficina em um dia, cadastrar candidatos ao trabalho e encaminhá-los para vagas abertas.

Mas a crise do varejo, que viu suas vendas encolherem 3,3% de janeiro a setembro deste ano na comparação com o mesmo período de 2014, deve tornar a figura do Papai Noel artigo de luxo nas ruas da cidade.
No ano passado, a Claus conseguiu algum trabalho –que pode ser fixo ou apenas um evento em empresa, por exemplo– para 34 pessoas. O número equivale a 70% de aproveitamento dos participantes do curso, segundo Ribeiro. Neste ano, não mais que 15 devem ser contratados no comércio da cidade.

O pessimismo também contaminou o espírito natalino dos candidatos, reduzindo o número de participantes do curso neste ano.

Segundo o Sindicato dos Comerciários, onde a oficina foi realizada, 40 pessoas haviam se inscrito e só 20 apareceram no dia marcado.

Francisco Farias, 62, é bombeiro aposentado, mas segue desempenhando função semelhante em feiras de negócios. "É mais prevenção e primeiros socorros", afirma.

Quando a barba branca começou a crescer, ouviu dos 19 netos e dos vizinhos que ele se parecia com o tradicional personagem natalino. "Nesta época do ano, o número de eventos diminui", justifica. Por isso, segundo ele, há espaço na agenda para tentar uma vaga de Papai Noel.

Marco Antonio Degani, 51, trabalhava como segurança privado em empresas até o final do ano passado. Sem emprego desde então e vivendo de bicos, decidiu usar "os quilos a mais" para tentar virar Papai Noel neste final de ano.

"É uma profissão bem remunerada, uma renda a mais", diz Degani sobre a nova tarefa, uma grande mudança perto de seu trabalho antigo, em que nem tinha contato com crianças.

REMUNERAÇÃO

As vagas abertas neste ano pagam entre R$ 1.200 e R$ 3.000, segundo Silvio Ribeiro, da Claus. O período de trabalho como bom velhinho deve ser de menos de um mês.

Isso porque, além do número reduzido de vagas no mercado, os trabalhadores sofrem com a diminuição do período de contrato -uma forma encontrada pelos comerciantes para economizar nos custos.

Geralmente de 30 dias no comércio de rua, as vagas devem ser para 20 dias –ou mesmo 10. Papais noéis de shopping trabalham cerca de 45 dias. A esta altura do ano, portanto, essas vagas já foram preenchidas.

A Alshop (que reúne os lojistas de shoppings do país) não tem estimativa de profissionais na função. A associação afirma, no entanto, que as lojas estão, de fato, desistindo de empregar papais noéis em momento de desaceleração das vendas.

Os shoppings, que abriam até três vagas por ano, também devem reduzir o número de pessoas se revezando na função para apenas um.

O custo, de R$ 6.000 por Papai Noel, ficou pesado para os comerciantes em um ano de crise econômica.


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