Folha de S. Paulo


Participação do negro no mercado em SP sobe, mas salário continua menor

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Sao Paulo, SP,Brasil v15.09.2015 Sindicalistas e trabalhadores ligados a Cut fazem protesto em frente a FIESP, na Av Paulista contra demissoes e arroxo salarial - foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress cod0649 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Protesto da CUT contra demissões e arroxo; negros ganham 36% a menos que não negros

Enquanto o rendimento por hora dos negros ficou praticamente estacionado, com alta de 0,3% entre 2013 e 2014, o dos não negros subiu 2,9% nesse período na Grande São Paulo.

Com isso, aumentou a distância entre os dois grupos. Negros ganhavam em 2014 R$ 8,79 em média por hora, 36% a menos do que não negros na Grande São Paulo, com R$ 13,80 por hora.

Apesar disso, a participação de negros no total de pessoas com emprego cresceu de 35,2%, em 2013, para 37,9%, em 2014. Isso se explica em parte pelo aumento da taxa de desemprego entre os não negros, que foi de 9,4% para 10,1%, enquanto o índice permaneceu estável em 12% entre os negros.

Os dados são de estudo da Fundação Seade com base em dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos) e foram divulgados nesta terça-feira (17) em decorrência do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado na próxima sexta-feira.

TENDÊNCIA TEM SIDO DE QUEDA NA DIFERENÇA

Segundo o economista Alexandre Loloian, responsável pela pesquisa, a tendência geral dos últimos anos tem sido de queda da diferença, com aumento da remuneração de setores onde os negros predominam.

Se em 2014 os negros recebiam 63,67% do que os não negros ganhavam, esse valor era de apenas 54,6% em 2002.

Mas a desaceleração da economia, que se acentuou a partir de 2014, prejudicou principalmente os negros no quesito rendimento. Esse processo deve continuar a ocorrer em 2015, afirma.

Os negros no mercado de trabalho

Ele destaca o setor de serviços como um dos principais responsáveis pelo aumento da diferença.

Negros e não negros têm participação equivalente no setor em geral, mas não negros predominam nas áreas que pagam melhor e que tiveram aumento de rendimento, como serviços financeiros, serviços para empresas e administração pública.

Serviços de alojamento, transporte e atividades administrativas, com forte atuação de empresas de terceirização, pagam menos e têm predominância de negros. E tiveram queda de rendimento.

De acordo com o estudo, a diferença histórica se explica pela ocupação maior de negros em áreas menos regulamentadas e que pagam menos, como a de empregados domésticos, que passou em 2014 por retração.

9% dos ocupados negros trabalham como domésticos, enquanto essa taxa é de 5% para os não negros. Além disso, 9,6% dos negros e 6,3% dos não negros trabalham na construção.

Nas áreas que pagam mais, os não negros são maioria.

16,7% dos ocupados não negros trabalhavam na indústria da transformação em 2014, enquanto essa taxa era de 16,2% para os negros.

MULHERES NEGRAS

A diferença é particularmente acentuada entre mulheres negras e homens não negros.

Apesar de uma leve melhora em comparação ao ano anterior, em 2014 elas ganhavam 51,5% do que eles ganhavam.

Isso se explica pelo tipo de atividade ocupada por essas mulheres. O emprego doméstico tem sido exercido, predominantemente, por mulheres negras, mais velhas e com baixo nível de escolaridade, por exemplo.

A defasagem é bem maior do que a entre mulheres não negras e homens não negros. Em 2014, elas ganhavam 80,4% do que os homens não negros ganhavam.

No mesmo ano, homens negros ganhavam 63,5% do que homens não negros ganhavam.

DESEMPREGO

O aumento mais acentuado do desemprego entre os não negros fez com que a diferença diminuísse nesse quesito na Grande São Paulo. Segundo o estudo, a taxa de desemprego aumentou, entre 2013 e 2014, de 9,4% para 10,1% entre os não negros.

Como ela permaneceu estável em 12% para os negros, a diferença entre as duas taxas caiu de 2,6 para 1,9 ponto percentual no período.

De acordo com Loloian, isso ocorre porque o desemprego aumentou mais em setores onde há maioria de não negros, como indústria e comércio.

A proporção de negros com carteira assinada permaneceu, em 2014, ligeiramente menor para não negros, compondo 62,9% do total dos trabalhadores empregados, enquanto a taxa para os negros era de 61,7%.

O estudo destaca que isso se explica pela menor proporção de negros no setor público. A hipótese do estudo é de que o menor acesso ao ensino superior diminui também a entrada dos negros no funcionalismo público.


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