Folha de S. Paulo


Megaevento de comércio eletrônico na China deve quebrar novo recorde

Assim que o relógio marcou meia-noite na China, foi dada a largada para o maior evento de comércio eletrônico do mundo (13h desta terça em Brasília). Conhecido como o Dia dos Solteiros, é uma maratona de promoções online que neste ano deve bater o recorde de 2014, quando gerou vendas de US$ 9,3 bilhões –mais que as duas maiores datas do comércio eletrônico dos EUA somadas.

Enquanto mobiliza milhões de consumidores chineses em busca de pechinchas, o sucesso do evento oferece uma sinalização importante sobre a segunda economia do mundo, ilustrando o aumento do consumo, maior aposta do governo para equilibrar o modelo atual e deter a desaceleração.

Pelo menos no começo de suas primeiras 24 horas, o festival de compras não desapontou.

No ano passado, os consumidores chineses levaram três minutos para chegar a 1 bilhão de yuans (R$ 598 milhões) em compras no Dia dos Solteiros. Desta vez o ritmo foi bem mais acelerado: em cinco minutos o total já era cinco vezes maior.

Segundo o grupo Alibaba, líder mundial do comércio eletrônico, neste ano o Dia dos Solteiros oferecerá 6 milhões de produtos de mais de 40 mil varejistas, em comparação com 27 mil em 2014. O total das vendas também deve ser superior, chegando a US$ 13,7 bilhões, cálculo da empresa de análise de americana International Data Corporation.

Os planos de expansão global esbarram na imagem da China como origem de produtos duvidosos. O Alibaba diz que redobrou seu monitoramento, mas segundo relatório recente de uma agência reguladora chinesa, quatro em cada dez produtos comprados online são falsos ou de má qualidade.

À altura da expectativa bilionária, uma megafesta foi organizada nesta terça (11) em Pequim pelo Alibaba. Foi no Cubo d`Água, que abrigou as provas de natação na Olimpíada de 2008, com a participação de celebridades locais e internacionais, como o ator britânico Daniel Craig, que interpreta o agente 007. Diante de uma platéia escolhida pela empresa, Craig duelou num jogo de adivinhação com Jack Ma, o bilionário fundador do Alibaba. Visivelmente encabulado diante de apresentadores que só falavam chinês, pouco lembrou o jeito infalível de James Bond.

Mas o verdadeiro show começou com a abertura das vendas, quando um telão passou a mostrar em tempo real o volume de transações. Em apenas um minuto, as transações somaram US$ 125 milhões, mais de 70% feitas por dispositivos móveis em 180 países.

Na sala de imprensa do Cubo, onde a Folha acompanhou o evento, o frisson foi tão grande que nem os jornalistas chineses resistiram: alguns logo acessaram os sites de compras em busca de barganhas.

Criado como um feriado de brincadeira por universitários chineses nos anos 90, o Dia dos Solteiros (sempre em 11/11, como símbolo de unitários) chamou a atenção das empresas de comércio eletrônico, que o lançaram como dia de promoções online em 2009. No ano passado o evento se estendeu pela primeira vez a outros países, incluindo o Brasil. De acordo com o Alibaba, em 2014 a primeira compra global foi feita por um brasileiro, assim que as vendas foram abertas.

O país também se destacou em volume de vendas. Pelas contas da empresa, no ano passado o Brasil ficou em segundo lugar nas compras globais, só ficando atrás da Rússia. Os itens mais comprados pelos brasileiros foram roupas, capas de celulares e sutiãs adesivos.

Mas a expectativa em relação aos dois países não é mais a mesma. No segundo trimestre do ano, após registrar o menor crescimento no mesmo período, o grupo Alibaba atribuiu a freada à queda na demanda e à desvalorização da moeda em alguns de seus "principais mercados, como Rússia e Brasil". A desaceleração da economia chinesa também teve impacto, mas a empresa confia no potencial de demanda reprimido que existe no país.

No mês passado, causou preocupação mundial a taxa de crescimento de 6,9% do PIB chinês no terceiro trimestre, pior resultado desde 2009. Por outro lado, serviços e consumos passaram pela primeira vez a representar mais de metade do PIB do país (51,4%).

"A classe média na China hoje tem 300 milhões de pessoas e esse número vai subir para 500 milhões em 10 ou 15 anos", disse Jack Ma. "Isso criará oportunidades para todos os países. O poder de consumo chinês vai crescer rapidamente, guiando não só a economia da China, mas de todo o mundo".

O repórter viajou a convite do Alibaba


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