Folha de S. Paulo


Odebrecht Agroindustrial suspende pagamento de empréstimos

Paulo Whitaker/Reuters
Sede da Odebrecht em São Paulo
Sede da Odebrecht em São Paulo

A Odebrecht Agroindustrial, segunda maior produtora de açúcar e álcool do país, conseguiu uma trégua de 60 dias nos pagamentos a um grupo de bancos aos quais deve R$ 9 bilhões.

A companhia disse aos credores que precisava do prazo para apresentar uma proposta de alongamento do débito e concluir investimentos necessários para sua operação.

A empresa, que teve prejuízo de R$ 1,1 bilhão de abril de 2014 a março deste ano, precisa acertar sua situação financeira com BNDES, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander.

Executivos de três dessas instituições disseram à Folha que concordaram com o adiamento e entendem que a renegociação é necessária para manter a operação de pé.

A Odebrecht, que vem sendo assessorada pelo banco Rothschild e pela assessoria financeira Virtus BR Partners, não quis dar detalhes. Mas, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou que as conversas estão em curso e que o alongamento da dívida será "complementado" por uma nova injeção de recursos na companhia.

No ano passado, a Odebrecht Agroindustrial recebeu R$ 820 milhões de seus controladores e também renegociou parte das dívidas. A empresa afirma que ainda não definiu quanto irá aplicar neste ano, mas diz que o montante será superior ao realizado em 2014.

A produtora de etanol ainda precisa completar seu plano de negócios e este ano planeja investir pelo menos R$ 600 milhões.

As dificuldades financeiras da companhia não estão ligadas à Operação Lava Jato, que investiga a suposta participação de outras empresas do grupo Odebrecht num esquema de corrupção na Petrobras.

Assim como aconteceu com todo setor de etanol, o projeto da Odebrecht foi alvejado, no período em que ainda tentava se firmar, por uma combinação de endividamento pesado para crescer rápido antes dos concorrentes no setor e a competição desleal com o preço da gasolina.

Além de o preço do combustível ter ficado artificialmente baixo durante anos para segurar a inflação, o governo deixou de cobrar a Cide, tributo que incide sobre a gasolina e o diesel. Com isso, o etanol ficou pouco atrativo para os consumidores.

PLANO FRSUTRADO

A Odebrecht Agroindustrial foi criada em 2007 e até aqui consumiu mais de R$ 10 bilhões na construção e compra de usinas de etanol pelo país. Hoje, tem nove unidades em quatro Estados.

A ideia era assumir a liderança de um mercado que parecia promissor, tinha apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atraiu interesse de grandes grupos do Brasil e do exterior.

Quando isso acontecesse, a empresa abriria o capital na Bolsa e recuperaria rapidamente o dinheiro investido no empreendimento.

Até agora deu tudo errado, mas os preços do mercado de etanol começaram a subir e a renegociação da dívida da empresa com os bancos é uma aposta na tentativa de colocar ordem na casa.


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