Folha de S. Paulo


Desertos, prédios esperam empresas no Rio

Ricardo Borges/Folhapress
Eco Sapucaí, edifício de escritórios que está vazio no Centro do Rio
Eco Sapucaí, edifício de escritórios que está vazio no Centro do Rio

Com obras concluídas há seis meses na região central do Rio, ao lado do Sambódromo, o edifício EcoSapucaí chama atenção pela arquitetura de Oscar Niemeyer, uma fachada de 22 mil metros quadrados de vidros, e pela a absoluta falta de inquilinos.

A cinco quilômetros dali, o Port Corporate Tower, primeiro da revitalização da região portuária, foi inaugurado há quase um ano, mas só tem um ocupante: a Tishman Speyer, a proprietária do empreendimento. O edifício custou cerca de R$ 280 milhões.

Os projetos fazem parte de uma leva de prédios corporativos -ramo chamado de lajes, em que empresas alugam até andares inteiros- lançados no início desta década, no embalo da revitalização das regiões para a Olimpíada.

Centro do Rio

Esses edifícios estão ficando prontos agora, em plena crise da economia e do setor de óleo e gás no Rio, afetado pela desaceleração dos investimentos da Petrobras. Os prédios estão às moscas.

Segundo a empresa de pesquisa imobiliária Buildings, as duas regiões -que incluem bairros como Centro, Cidade Nova, Santo Cristo, Saúde, Lapa, Gamboa- têm 358 edifícios corporativos, num total de 3,5 milhões de metros quadrados.

Na região central, 9,9% dos espaços estão vagos, acima da média da cidade para o segmento (9,1%) e maior taxa desde 2005. Já a zona portuária tem 22,05% de espaços em vacância (vazios), perto da média dos últimos trimestres da área, que antes estava abandonada.

"São 119 mil m² de lajes lançados nas regiões em um ano, num momento de queda da demanda", afirma Jonas Libardi, supervisor na Buildings. "E vai piorar porque 60 mil m² ficam prontos até o fim do ano."

Região portuária do Rio

Os aluguéis também pararam de subir. Segundo a Building, o metro quadrado corporativo ficou estável em R$ 95 do segundo para o terceiro trimestre no Centro.

Segundo Adriano Sartori, vice-presidente da CBRE Brasil, consultoria imobiliária, as empresas estão adiando mudanças de escritório pela dificuldade de planejar o negócio num horizonte de mais de um ano.

"O mercado do Rio acaba mais afetado porque é muito ligado ao setor de óleo e gás, que sofre com tudo isso que está no noticiário", diz Sartori. "Mas há oportunidades. São prédios excelentes".

O EcoSapucaí, por exemplo, tem heliponto, sala de reunião, lojas, restaurantes e uma das maiores lajes do mercado (quase 5.000 m²). O aluguel de metro quadrado custa R$ 110 por mês. O preço varia conforme a negociação.

Com a dificuldade de atrair inquilinos, o prejuízo, neste caso, fica para o fundo soberano de Cingapura, que comprou o prédio da gestora Hemisfério Sul Investimentos (HSI) no início deste ano.

REVISÃO DE PROJETOS

Com o mau momento do mercado, metade dos empreendimentos com previsão de entrega até 2018 na zona portuária deve ser postergada ou cancelada, segundo Thierry Botto, diretor da Cushman & Wakefield no Rio de Janeiro. São cerca de 20 prédios programados.

"Existem diversos projetos que foram anunciados para a região, mas que estão ainda sem aprovação na prefeitura e terreno comprado", disse Botto.

O conjunto de cinco torres do magnata norte-americano Donald Trump seria um candidato a isso. Com valor de venda de até R$ 6 bilhões, as Trump Towers ainda estão em avaliação na prefeitura e podem ou não começar a ser construídas em 2016.

Para Botto, a postergação de projetos adia a ocupação da região portuária, mas não atrapalha sua revitalização. Uma PPP (Parceria Público-Privada) está investindo R$ 8 bilhões na região, com recuperação de ruas, praças e construção de museus.

Procurada, a Tishman Speyer disse que investe com visão de longo prazo. A CBRE, comercializadora do EcoSapucaí, por exemplo, disse que negocia com empresas a locação das lajes.


Endereço da página:

Links no texto: