Folha de S. Paulo


Dólar comercial sobe para R$ 3,89 com crise política e dados ruins da China

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Dólar comercial fecha cotado a R$ 3,89 com dados ruins de China e crise política
Dólar comercial fecha cotado a R$ 3,89 com dados ruins de China e crise política

O dólar comercial teve forte valorização nesta terça-feira (13) e fechou o dia cotado a R$ 3,89, afetado por dados econômicos que apontam para a desaceleração da China e também pela crise política enfrentada pelo governo brasileiro, na qual as discussões em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff deixam em segundo plano a votação do ajuste fiscal.

A alta da moeda americana também teve um componente de ajuste técnico, com importadores aproveitando o fato de o dólar ter encerrado a semana passada no menor nível em um mês para conseguir trazer seus produtos ao país a uma cotação mais baixa.

O dólar comercial, usado em transações de comércio exterior, fechou o dia com valorização de 3,59%, para R$ 3,894. O dólar à vista, referência no mercado financeiro e que fecha mais cedo, teve alta de 2,45%, para R$ 3,848.

Já a Bolsa brasileira interrompeu sequência de nove altas e encerrou o dia com queda de 4%, para 47.362 pontos, na maior desvalorização diária desde dezembro do ano passado.

A queda do real ante o dólar ocorreu em linha com o exterior, com 20 das 24 principais moedas emergentes perdendo força em relação à divisa americana após dados ruins de balança comercial da China.

O gigante asiático registrou queda de 20% das importações em setembro na comparação anual devido aos preços fracos de commodities e à demanda doméstica fraca, o que continuará a complicar os esforços do governo chinês para conter a deflação. Foi o 11º mês seguido de queda das importações.

De uma maneira geral, a balança comercial da China mostrou leve recuperação no mês passado, mas as importações continuam preocupando e gerando dúvidas sobre uma desaceleração do gigante asiático. As exportações caíram 3,7% em relação ao mesmo período do ano passado, contra recuo de 5,5% em agosto.

"Os dados da China criam uma incerteza em relação à expectativa oficial da adoção de novas medidas de estímulo pelo governo. A avaliação é que a margem de manobra da China é pequena para revitalizar a economia do país", afirma Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Capital Asset.

Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, a desaceleração da China só piora o cenário para o Brasil. "Nós focamos nos últimos anos no comércio exterior com a China, que se tornou o principal parceiro comercial do país. A desaceleração da economia chinesa acaba tendo impacto mais forte aqui do que em outros países que diversificaram seus parceiros comerciais", afirma.

CRISE POLÍTICA

Mas o principal motivo para a depreciação do real nesta terça-feira foram as incertezas políticas do país, com a discussão em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff deixando de escanteio a votação do ajuste fiscal necessário para que o Brasil consiga obter superavit primário —saldo entre receitas e despesas, excluindo juros—- em 2016.

"A questão em torno do processo, se vai haver impeachment ou não da Dilma, se o presidente da Câmara [Eduardo Cunha] vai ou não renunciar, isso tudo atrapalha", diz Carlos Pedroso, economista-chefe do Banco de Tokyo-Mitsubishi.

"A incerteza política significa que as matérias fiscais que estão no Congresso vão ser adiadas e não vão sair com a rapidez necessária para realizar o ajuste necessário para gerar o superavit no ano que vem. Com isso, haverá uma piora nas condições econômicas que se reflete no câmbio", complementa.

Nesta terça-feira, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu o rito estabelecido por Cunha para o andamento na Casa de um eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Na prática, os ministros não impedem o presidente da Câmara de avaliar os pedidos de impedimento de Dilma, mas, segundo interpretação da área técnica da Corte, travam a possível tramitação de uma ação contra a petista nos moldes definido por Cunha.

Entre as manobras acertadas pelo peemedebista com a oposição está a de que, caso ele rejeite um pedido, caberia recurso ao plenário, onde bastaria o voto da maioria dos presentes à sessão para que seja dada sequência ao processo.

"A estabilização do ambiente político é necessária para evitar um novo rebaixamento do país", avalia Rostagno, do banco Mizuho.

A incerteza política também fez com que os juros futuros subissem nesta sessão. O contrato de DI para janeiro de 2016 avançou de 14,320% na última sessão para 14,370%. O DI para janeiro de 2017 subiu de 15,560% para R$ 15,800%, e o DI para janeiro de 2021 passou de 15,650% para 15,940%.

Vale destacar que, nas últimas semanas, participantes do mercado apontavam que a forte alta do dólar estava relacionada ao cenário interno no país. Na última semana, porém, a moeda americana só subiu um dia, ainda que os desdobramentos da crise política tenham continuado.

AÇÕES

As ações da Gol lideraram as baixas do Ibovespa, afetadas pela forte valorização do dólar nesta sessão. Os papéis tiveram queda de 13,41%, para R$ 3,81. As ações de siderúrgicas e da Vale também encerraram o dia com fortes desvalorizações, prejudicadas pelos dados ruins da economia chinesa.

Os papéis preferenciais da CSN tiveram queda de 12,57%, enquanto as ações de mesmo tipo da Usiminas caíram 11,53%. Os papéis preferenciais da mineradora Vale —os mais negociados— caíram 7,87%, para R$ 14,98, enquanto os ordinários —com direito a voto— fecharam o dia com forte queda de 10,63%, para R$ 18,58.

A queda também é reflexo da forte valorização sofrida pelos papéis nos últimos pregões. De 29 de setembro até sexta-feira (9), as ações preferenciais da mineradora acumulavam alta de 23%, enquanto as ordinárias subiram 26,15%. Diante dos ganhos e em meio à instabilidade política no país, os investidores optam por embolsar os ganhos obtidos no período —a chamada realização de lucro.

As ações da Petrobras também caíram nesta sessão. Os papéis preferencias da petrolífera caíram 7,61%, para R$ 8,13. Os ordinários tiveram queda de 8,12%, para R$ 9,84. A queda de hoje, porém, também tem um componente de realização de lucro: as ações preferenciais da estatal acumulavam valorização de 33,5% entre 29 de setembro e sexta-feira, enquanto os ordinários subiram 36,4% no mesmo período.

Na ponta contrária, os papéis de exportadoras se destacaram nesta terça-feira. As ações de Suzano, do setor de papel e celulose, registraram alta de 9,22%, para R$ 18,37, enquanto os papéis da Fibria tiveram alta de 4,20%, para R$ 53,61.


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