Folha de S. Paulo


Bilionário charmoso detém a chave para a proposta da cervejaria AB InBev

Theo Wargo/Getty Images
Bilionário sul-americano Alejandro Santo Domingo pode ajudar AB Inbev a obter controle da SABMiller
Bilionário sul-americano Alejandro Santo Domingo pode ajudar AB Inbev a obter controle da SABMiller

Quando as colunas sociais revelaram, em julho, que o elegante bilionário sul-americano Alejandro Santo Domingo se casaria com Lady Charlotte Wellesley, a filha do duque de Wellington, algo morreu nos corações de muitas das mais belas damas do reino, como um conto de fadas talvez dissesse.

Santo Domingo, 38, serve como charmosa face pública para a fortuna que sua família criou na indústria da cerveja colombiana. Presença constante nas listas de homens mais bem vestidos e solteiros mais cobiçados do planeta, esta semana o financista educado em Harvard também se tornou o fiel da balança no esforço da Anheuser-Busch InBev para tomar o controle acionário da SABMiller.

Por décadas, a família Santo Domingo foi liderada por Julio, pai de Alejandro, um poliglota cortês e astuto negociador responsável pela construção de um conglomerado que, em seu auge, respondia por 4% do PIB (Produto Interno Bruto) da Colômbia.

A venda da cervejaria Bavaria à SABMiller, um golpe de mestre que ele orquestrou em 2005, tornou a família Santo Domingo a segunda maior acionista da SABMiller, com 14% de participação e dois votos no conselho. Hoje, tendo multiplicado a fortuna da família em mais de 700%, para US$ 14 bilhões, a participação faz dos Santo Domingo a chave para o sucesso da oferta de £ 65 bilhões que a AB InBev apresentou pelo grupo sediado em Londres.

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Carlos Brito, o presidente-executivo brasileiro da fabricante da cerveja Budweiser, reconheceu o fato na quarta-feira ao anunciar a oferta de £ 42,15 por ação apresentada pela AB InBev. "Não haverá transação sem eles, isso é muito claro".

De fato, ele declarou que a porção da proposta que envolvia uma forma alternativa de pagamento em uma combinação de dinheiro e ações havia sido "projetada para e com" a família Santo Domingo, e parecia acreditar que contaria com a adesão deles, o que garantiria a maior aquisição da história para uma companhia cotada no Reino Unido.

Pouco mais tarde, porém, Brito teve de divulgar apressadamente um comunicado: "para esclarecer que [a AB InBev] no momento não tem o apoio da BevCo [a companhia dos Santo Domingo] à combinação proposta".
Santo Domingo, que administra os interesses da família desde a morte de seu pai, em 2011, foi contatado por e-mail quanto às intenções da família, mas respondeu que "por enquanto, não temos comentário".

Empresário charmoso, radicado em Nova York, Santo Domingo parece de muitas maneiras levar a vida de um príncipe encantado. Administra a fortuna da família por meio da Quadrant Capital Advisory, com a ajuda do primo por parte de mãe, Carlos Alejandro Pérez Dávila, 53, ex-executivo do banco de investimento Goldman Sachs e colega de Alejandro no conselho da SABMiller.

Na Colômbia, os Santo Domingo são tratados como reis —a sobrinha de Alejandro, Tatiana, aliás, é parte, por casamento, da família real de Mônaco. De forma um tanto incomum para os filhos dos muito ricos — especialmente de pais imponentes como Julio, que era parte da elite política colombiana mas também do La Cueva, um grupo literário boêmio cujos integrantes incluíam o escritor Gabriel García Márquez—, os amigos de Alejandro o descrevem como uma pessoa afável, inteligente e interessada em causas filantrópicas, a exemplo da ONG educacional da cantora Shakira.

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"Ele é muito inteligente", diz Violy McCausland-Seve, executiva de investimentos que serviu como consultora da família e em 1999 foi a primeira empregadora do promissor financista Alejandro, quando ele se formou. "Mas a inteligência também vem de saber se cercar de pessoas bem informadas, ouvi-las... pedir opiniões, sem supor que você sabe tudo".

O talento, ou "don", dos negócios claramente corre na família. A venda da Bavaria à SABMiller dez anos atrás multiplicou e também diversificou a fortuna do clã, e com isso o protegeu contra a recente queda dos preços dos ativos nos mercados emergentes.

Também permitiu que os Santo Domingo recebessem cerca de US$ 1,5 bilhão em dividendos, reinvestidos em negócios que variam da logística à mídia.

No entanto, é seu monopólio sobre a cerveja que embasa a fortuna dos Santo Domingo. De fato, foi o sucesso dos Santo Domingo e de outras dinastias regionais da cerveja, como os Mendoza na Venezuela e os Bemberg na Argentina, que inspirou o bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann, acionista chave da AB InBev, a entrar no negócio da cerveja, e agora a lançar seu esforço para tomar o controle da SABMiller.

"Esses caras e suas famílias não podem todos ser gênios... O negócio é que deve ser bom", ele disse certa vez.

Tão bom, de fato, que a família Santo Domingo, que em 1996 rejeitou uma oferta de Lemann pela Bavaria, provavelmente não desejará abrir mão dele com tanta facilidade.

O que poderia levar Santo Domingo, o "príncipe encantado" que agora aparentemente tem tudo, incluindo uma noiva, a mudar de ideia? "Todo mundo gostaria de saber o que Alejandro pensa", diz McCausland-Seve, que afirma não estar ciente da posição da família. "Mas a coisa mais importante nas fusões e aquisições é não dizer qualquer coisa, guardar o silêncio e jogar com as cartas bem escondidas".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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