Folha de S. Paulo


Casamento falso vira oportunidade real para empresa ganhar dinheiro

Reprodução/Facebook
Festa promovida pela empresa Falsa Boda, na Argentina
Festa promovida pela empresa Falsa Boda, na Argentina

O noivo ajeita o colarinho enquanto espera nervosamente diante do juiz de paz. A noiva está radiante, em seu vestido branco. Ao vê-la percorrer o corredor da igreja, alguns dos convidados, comovidos, enxugam lágrimas.

Mas antes que o casal possa proferir seus votos, uma voz se faz ouvir e um homem entra na igreja, proclamando seu amor pelo noivo. A noiva foge, chorando, e, para não desperdiçar a cerimônia, os dois homens resolvem se casar.

Teria sido um desastre, caso tudo isso não tivesse sido cuidadosamente planejado: parte da "mise-en-scène" de um "falso casamento" —a mais recente tendência nas festas argentinas.

Com cada vez menos argentinos jovens se casando de verdade, grupos de amigos na casa dos 20 e 30 anos optam por pagar até US$ 50 por pessoa para participar de eventos encenados.

"Tudo começou dois anos atrás com um grupo de amigos. Percebemos que fazia muito tempo que não íamos a casamento algum, porque quase ninguém mais se casa", diz Martín Acerbi, 26.

Em sociedade com quatro amigos de La Plata, cidade a 50 quilômetros de Buenos Aires, ele decidiu que organizaria um falso casamento.

Para surpresa do grupo, o evento foi um sucesso espetacular, e a brincadeira virou negócio. Acerbi e seus amigos criaram a companhia Falsa Boda, em novembro de 2013 —e não pararam de trabalhar desde então.

A companhia obtém locais reais de casamento, fornecedores de comida e DJs para as festas, diz Acerbi. "Organizamos a cerimônia como se fosse real, mas o casamento em si é falso", ele diz.

Atores interpretam a noiva, o noivo e uma terceira parte que intervém de surpresa: um amante abandonado, um namorado secreto que chega "inesperadamente", e com resultados dramáticos.

"Nossos convidados têm toda a diversão de uma festa de casamento sem o compromisso ou o problema de encontrar um casal que esteja realmente se casando."

Um "falso casamento" típico envolve 600 ou 700 convidados e vai até as 6h do dia seguinte -o horário normal de um casamento na Argentina, país que ama festas.

Atores interpretam histórias diferentes em cada evento, mas todas culminam com a "noiva" jogando o buquê para as mulheres convidadas.

"As meninas estavam eufóricas, como se uma prima delas estivesse se casando", disse Pablo Boniface, 32, que participou de um falso casamento recente em Buenos Aires.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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