Folha de S. Paulo


Perfil e concentração do público são chaves para crescer na Olimpíada

Na Copa do Mundo, deu tudo errado. Mas na Olimpíada, vai ser bem melhor.

A análise esperançosa caberia para a seleção brasileira de futebol. Mas virou lema de pequenos e médios empresários que esperam superar o fraco desempenho econômico da Copa e crescer durante os Jogos Olímpicos de 2016.

Muitas empresas já começaram a lançar produtos e serviços de olho no evento. A principal razão para o entusiasmo é demográfica.

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ,BRASIL, 02/10/2015; Mayara Sperotto é diretora da empresa Khaya Media, que está captando acomodações para jornalistas e outros profissionais que vem para o Rio no ano que vem trabalhar(Foto: RIcardo Borges/Folhapress. ) *** EXCLUSIVO FOLHA***
Mayara Sperotto é diretora da Khaya Media, que está captando acomodações para jornalistas e outros profissionais que vem para o Rio em 2016

Diferentemente da Copa, que teve 12 sedes pelo Brasil, a Olimpíada vai ter a maior parte das disputas no Rio, o que tornará maior o número de pessoas na cidade, assim como seu tempo de permanência. Segundo o Ministério do Turismo, 1 milhão de turistas devem viajar ao Rio em 2016.

Para o professor Roberto Kanter, da Fundação Getulio Vargas, outra vantagem da Olimpíada para a economia da cidade-sede é o perfil mais familiar do público, em comparação ao majoritariamente masculino que veio acompanhar a Copa do Mundo.

"Famílias e mulheres fazem gastos mais variados, além de alimentação e bebidas", afirma Kanter.

A expectativa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é que a Olimpíada deixe um "legado econômico" às micro e pequenas empresas de até R$ 250 milhões.

Cléber Soares, vice-presidente do grupo de franquias de odontologia Sorridents, é um dos otimistas. Apesar do resultado frustrante da Copa, ele divulga os serviços da rede na imprensa estrangeira.

"Esperávamos o mesmo na Copa, mas a expectativa não se cumpriu, mesmo com investimentos e parcerias com hotéis. Mas, desta vez, o tempo de permanência do turista é maior", diz.

A Maria Brasileira, especializada em serviços domésticos, projeta crescimento de 20% no faturamento em 2016.

"Como haverá famílias no Rio que devem alugar apartamentos vai crescer a demanda por contratação de mão de obra para limpeza", diz Patrícia Abilaine, 33, consultora da companhia.

Mayara Sperotto, da Khaya Media, especializada em acomodar pessoas que vão a eventos esportivos a trabalho, diz que a procura por imóveis para locação está alta.

"Já captamos cerca de 700 quartos, e ainda há demanda", afirma a empresária. "A demanda está sendo bem maior do que vimos na Copa".

De olho na outra ponta do evento, os profissionais que terão contato com os torcedores, a rede de escolas de idiomas Yes criou um curso especial de curta duração.

"Em três meses, taxistas, garçons e outros profissionais já adquirem as noções necessárias para lidar com turistas", diz Clodoaldo Nascimento, presidente da rede.

CAUTELA

Há risco, contudo, de uma avaliação otimista demais.

"As previsões quanto as ganhos com eventos esportivos é sempre inflada, para convencer a opinião pública", diz Michel Mattar, 37, professor de gestão de esporte da FIA (Fundação Instituto de Administração).

A frustração com a Copa, segundo Mattar, também tem a ver com a supervalorização da expectativa. "É importante não repetir o erro na Olimpíada", afirma o professor.

PARCERIAS

É por meio de parcerias com outras empresas que muitos pequenos empresários esperam alavancar seus faturamentos durante os Jogos Olímpicos.

"As parcerias catalisam os negócios e ajudam a aproximar do público do evento algumas empresas que não teriam como se beneficiar sozinhas" diz o professor Roberto Kanter, da Fundação Getulio Vargas.

Realizada no início de outubro, a feira da ABF-RJ (Associação Brasileira de Franquias do Rio) teve a Olimpíada como tema e serviu para empresas com atuações complementares se aproximarem.

"Acredito que os jogos acrescentem R$ 200 milhões aos negócios de franquias em 2016", diz Beto Filho, presidente da instituição.

A Maria Brasileira, de terceirização de serviços domésticos, e a Khaya Media, de captação de acomodação para pessoas em viagem a trabalho, por exemplo, tornaram-se parceiras pensando no evento esportivo.

"Com as pessoas ficando um mês na cidade, em média, a limpeza será fundamental. Assim, buscamos um parceiro e encontramos a Maria Brasileira, que queria aproveitar a Olimpíada, mas não tinha como entrar sozinha", diz Mayara Sperotto, gerente da Khaya.

Patrícia Abilaine, da Maria Brasileira, conta que a empresa fez ainda acordos com imobiliárias e hotéis, para oferecer serviços que vão de cuidadores de idosos a passadeiras de roupas.

A rede de ensino de idiomas Yes firmou parcerias com cooperativas de táxi e restaurantes, para ampliar sua base de alunos.

"A parceria nos traz o aluno diretamente, sem intermediário", diz Clodoaldo Nascimento, presidente da rede.

Para fomentar a atuação das médias e pequenas empresas durante a Olimpíada, o Sebrae fechou um acordo com o comitê organizador e lançou, em 2013, um programa para ajudar empresas a fornecer produtos e serviços para o evento.

Segundo Francisco Marins, coordenador do programa Sebrae no Pódio, a entidade cadastrou cerca de 4.000 empresas, que passaram por processo de capacitação e certificação internacional para poder fornecer serviços na Olimpíada.

"Nos jogos, há aluguel e compra de tudo que se pode imaginar. De cones de sinalização a cavalos para locomoção de fiscais de provas. Atuamos para certificar esses fornecedores e fazer ponte entre a organização e as empresas brasileiras", explica Francisco Marins.


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