A Volkswagen foi avisada em pelo menos duas ocasiões sobre os riscos que corria com o programa para fraudar os controles de poluição, no centro de um escândalo que abalou a líder mundial de venda de automóveis.
De acordo com o jornal alemão "Bild", a fabricante de equipamentos alemã Bosch forneceu à Volkswagen em 2007 o dispositivo que está no centro do escândalo dos motores fraudados, embora tenha especificado ao grupo automotivo que eram de teste e que sua instalação nos veículos era "ilegal".
Nesse mesmo ano, a Volkswagen começou a implementar o dispositivo em motores a diesel com o objetivo de fraudar os resultados de testes de poluentes, acrescentou o jornal.
Um porta-voz da Bosch, questionado pela AFP, se recusou a comentar, citando a "confidencialidade" das suas relações com os seus clientes.
Além disso, de acordo com a edição de domingo do "Frankfurter Allgemeine Zeitung", um funcionário da Volks teria feito uma advertência internamente em 2011, alertando que esse "software" poderia "violar" a lei.
A investigação interna ainda não permitiu estabelecer por que os dirigentes da Volkswagen não reagiram ao alerta, de acordo com o jornal.
O escândalo levou à demissão, na quarta-feira (23), do presidente do grupo, Martin Winterkorn, e à perda de um terço do seu valor de mercado. Também ameaça destruir a imagem de integridade da indústria alemã.
A resposta à pergunta de por que os líderes não fizeram nada terá, entre outras coisas, influência na indenização que Winterkorn poderia receber ao deixar a empresa. O grupo de Wolfsburg, que emprega 600 mil pessoas em todo o mundo, deve esclarecer rapidamente várias perguntas.
O novo presidente do grupo, Matthias Mueller, então presidente da Porsche, já prometeu esclarecer o caso que fez a companhia perder milhões de euros.
A situação não é nada boa para a fabricante alemã, que admitiu na semana passada que instalou em 11 milhões de veículos no mundo todo um dispositivo para fraudar os controles de emissões e fazê-los passar por veículos menos poluentes do que realmente são.
As autoridades alemãs aumentaram a pressão sobre o grupo e exigem que a companhia ajuste seus modelos a diesel até 7 de outubro e os deixe em conformidade com as normas de emissões de poluentes, sob pena de retirar as licenças para os seus veículos, de acordo com um jornal.
Assim, a autoridade federal dos transportes (KBA) pediu à companhia que adote "medidas obrigatórias e um calendário" até 7 de outubro para adaptar seus motores a diesel às normas, segundo a edição deste domingo do "Bild".