Folha de S. Paulo


Trapaça da Volkswagen abala montadoras europeias de automóveis

Ralph Orlowski/Reuters
Ações da Volkswagen caem após empresa se envolver em escândalo sobre poluentes
Ações da Volkswagen caem após empresa se envolver em escândalo sobre poluentes

O setor automobilístico europeu sofreu um abalo nesta segunda-feira (21) depois que as ações da Volkswagen caíram em 20% quando a companhia admitiu ter trapaceado em testes de emissões nos Estados Unidos, o que causou apelos por investigação mais ampla do setor.

A capitalização de mercado da Volkswagen caiu em mais de 13 bilhões de euros, deflagrando uma onda de baixa nas ações de montadoras, depois que o presidente-executivo do grupo, Martin Winterkorn, se desculpou e ordenou a realização de uma investigação sobre o assunto por especialistas externos.

O governo alemão pediu uma investigação rápida sobre a possibilidade de que a Volkswagen e outras montadoras tenham manipulado testes de emissões também na Alemanha. Sigmar Gabriel, primeiro-ministro assistente do país, disse que se tratava de "um mau episódio" para o setor automobilístico.

A segunda maior montadora de automóveis do planeta foi instruída na sexta-feira a ordenar o recall de meio milhão de automóveis nos Estados Unidos, depois de ter admitido à Agência de Proteção Ambiental (EPA) norte-americana que havia instalado "dispositivos manipuladores" que permitem que seus carros contornem os padrões ambientais.

Eric Piermont/AFP
Volkswagen group Chairman of the Board Martin Winterkorn talks at the end of the Volkswagen Group Night show on October 1, 2-14 in Paris prior to the opening on October 2nd of the Paris Auto show 2014 Press days. AFP PHOTO/ ERIC PIERMONT ORG XMIT: EP1456
O presidente da Volks, Martin Winterkorn, que disse lamentar a a manipulação de dados de emissão

A EPA e o Conselho de Recursos do Ar da Califórnia agora estão obtendo veículos de outros fabricantes para testar o possível uso de trapaças semelhantes, enquanto Berlim planeja averiguar se os dados sobre emissões foram manipulados.

A notícia provocou queda nas ações das montadoras. Daimler, BMW, Renault e PSA-Peugeot Citroën registraram forte onda de vendas devido a preocupações dos investidores quanto à potencial escala do custo em que o setor como um todo terá que incorrer. A Volkswagen enfrenta bilhões de dólares em multas e custos de garantia, possíveis acusações criminais contra seus executivos e processos judiciais coletivos da parte dos motoristas dos Estados Unidos.

Stuart Pearson, analista do Exane BNP Paribas, disse que era improvável que a Volkswagen tenha sido a única empresa a manipular o sistema, em todo o mundo. "A manipulação de resultados de testes de emissão parece ter se tornado o momento Libor do setor automobilístico".

A Comissão Europeia anunciou que estava encarando o assunto "com muita seriedade" e que estava em contato tanto com a Volkswagen quanto com a EPA. Um dos 10 maiores acionistas da Volkswagen disse que o incidente seria muito custoso para a reputação da companhia.

"Existe escopo para ampla gama de processos, em muitas jurisdições. A questão a perguntar é: o problema é setorial? Outros grupos automobilísticos admitirão trapaças semelhantes?", disse o acionista.

Jochen Flashbart, ministro assistente do Meio Ambiente na Alemanha, disse que "estamos diante de um caso de gritante fraude contra o consumidor e de dano ao meio ambiente. Espero que a Volkswagen revele, na íntegra, como e em que escala esse tipo de manipulação aconteceu".

Grupos de ativistas há muito suspeitavam que as montadoras usassem "dispositivos manipuladores", e descobriram exemplos de veículos cujo consumo de combustível em uso prático era muito pior que o anunciado, e de emissões de óxido de nitrogênio muito superiores às alardeadas.

O algoritmo de software nos "dispositivos manipuladores" é parte, eles afirmam, de um conjunto mais amplo de truques usados para contornar os testes de laboratório em uso, vistos em geral como completamente obsoletos.

A agência de classificação de crédito Fitch alertou que a Volkswagen, que tem classificação de crédito A, pode ser rebaixada se o escândalo avançar.

Max Warburton, analista da corretora Bernstein, disse que o caso teria consequências para o setor de automóveis como um todo.

Montadoras europeias como a Fiat Chrysler vendem proporção muito mais alta de veículos a diesel nos Estados Unidos do que as montadoras norte-americanas ou asiáticas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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